sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Golens

Conversando com meu amigo Felms, fui apresentado a um jogo que marcou o Playstation 2, muitos aqui até devem conhecê-lo, chamado Shadow of Colossus. Com gráficos bem planejados, cenários elaborados e criaturas gigantescas, o jogo ganhou grande fama e ficou conhecido por certo diferencial com demais jogos de ação e de RPG. O ponto da conversa se prolongou para o que seriam exatamente os golens presentes no jogo; seriam eles meras criaturas de barro? Simples inimigos de nível mediano em partidas de RPG? Acredito que há uma história muito mais profunda do que esse monstro lendário aparenta.

A crença do golem engloba um papel muito importante dentro da mitologia e da filosofia, no caso esse papel se trata da busca do homem pela criação de um ser semelhante. É claro, não vale citar a reprodução natural como parte dessa busca, o interessante é foca na criação "artificial"! Essa temática da fabricação de um ser está espalhada em diversas culturas e influenciou diversos elementos que compõem a nossa cultura: a idéia do golem está presente desde o mito de Prometeu até o livro Frankenstein. As tradições místicas do judaísmo, particularmente a cabala, diziam que Deus havia criado o primeiro homem através de uma sucessão de ritos, não em um estalar de dedos, caso esse ritos fossem retomados e repetidos pelos estudiosos seria possível a criação de uma nova criatura. Há uma linha de raciocínio presente no Talmud que diz que até mesmo Adão havia sido um golem, já que ele também veio do pó; lembrando que os golens são provenientes da lama, existindo aí então uma correlação de elementos da alquimia.

No folclore judaico a palavra golem possui o significado literal de "casulo". Já no hebraico moderno a palavra significa "estúpido" ou ainda "imbecil". Curiosa essa última etimologia, pois a figura do golem sempre foi associada a submissão. O golem era criado a fim de servir seu mestre, seguindo todas as ordens a risca, nem sequer medindo as conseqüências de seus atos. O substantivo também pode ter sido derivado da palavra gelem que significa "matéria prima".

A história mais famosa que envolve a fabricação de um golem data do século XVI, mais exatamente na cidade de Praga. O rabino Judah Loew, orientado pelos ritos compreendidos no Livro da Criação do escritor Eleazar de Worms, começou a testar várias combinações de fórmulas com a finalidade de gerar vida. Certo tempo depois, após muitas falhas, o inesperado ocorre: do pó armazenado no armário do rabino uma figura humana começa a tomar moldes. Na cabeça do golem foi escrita a palavra Emet (verdade), assim a criatura pode tomar vida e se levantar.

Judah Loew tinha como objetivo criar um protetor para o gueto que constantemente sofria ataques anti-semitas. Durante o dia a criatura ficava escondida no sótão da casa do rabino, porém ela foi crescendo com o tempo, chegou então ao ponto de quebrar o telhado e se tornar visível a multidão. Tornando-se violento, o golem começou a espalhar o medo no gueto. Não restou alternativa a não ser lançar uma contra-magia e cessar com o caos; Judah apagou uma das letras da testa do golem e este voltou ao pó de onde viera.

Tempos mais tarde a escritora Mary Shelley se aproveitou da mesma história, apenas fazendo certas modificações que trouxeram o golem da cabala para a modernidade, sendo agora um ser movido por equipamentos provenientes da revolução industrial. Frankenstein foi um marco na literatura e até hoje é lembrado por sua consistência e sua metáfora sobre até que ponto o homem pode dominar suas criações.

Partindo agora para o lado RPGístico do artigo, vale sintetizar que o golem é uma criatura fabricada a partir de qualquer material que, através de ritos, passa a ganhar vida; esses materiais podem ser carne, ferro, pedra, areia, diamante ou até madeira. Esses rituais de criação tanto podem ser religiosos, quanto tecnológicos, variando de alquimia a cabala, como já foi citado. Palavras e símbolos impressos no corpo desses monstros representam a magia ali selada, que só pode ser quebrada de acordo com as regras impostas na criação.

Bom, por enquanto é só. Espero que tenham gostado do artigo e que continuem visitando sempre o blog, até a próxima!

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Sexto filme da série Harry Potter é adiado

As lágrimas dos fãs já estão sendo derramadas, triste não? A Warner Bros anunciou ontem, dia 14 de Agosto, que a continuação cinematográfica da série Harry Potter terá sua estréia agendada apenas para o ano que vem! Essa notícia foi no mínimo frustrante para os adoradores da obra que já preparavam suas fantasias para assistir ao sexto filme. O lançamento agora foi marcado para o dia 17 de Julho de 2009; haja paciência.

O curioso dessa notícia foi o alarde feito pelos fãs; tudo bem, pois se adiassem Watchmen, por exemplo, eu também tocaria o terror em todos os cantos! J. Lestrange, ilustrador do Covil, que posso afirmar com toda certeza que é o maior desenhista brasileiro da temática, aproveitou a oportunidade e soltou uma bomba através dos seus meios: hospedou quatro imagens inéditas do filme, e até então sigilosas, protegidas pela lei, e acabou por criar certa polêmica.

O prestigiado MuggleNet, considerado em escala internacional o maior site especialista em Harry Potter, chegou a criar uma matéria onde mostrava as quatro imagens inéditas com a assinatura do blog do caríssimo J. Lestrange. Foi um belo golpe de publicidade e uma bela maneira quase minimalista de se vingar dos estúdios Warner Bros. Preciso ressaltar também que a mudança da data foi uma estratégia para que a continuação da série possa ser lançada no verão americano e assim tentar faturar mais que os filmes anteriores. Chato, não?

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Watchmen

Posso dizer com facilidade que essa foi a melhor história em quadrinhos que eu já pude ler, até tenho sérias dúvidas se um dia terei em mãos uma graphic novel tão moralmente avassaladora, tão crítica com super-heróis e com a atual sociedade bélica. Acredito que o título não seja desconhecido entre os leitores do Falando de Fantasia, mesmo porque a história está sendo adaptada para o cinema, será lançada no final do primeiro semestre do ano que vem, e já conquistou diversos prêmios, que vão desde os de quadrinhos até os de obras literárias. Watchmen foi considerado um marco nos quadrinhos, já que seu enredo maduro, sua linguagem diferenciada e sua temática social conquistaram o interesse do público adulto, até então afastado do formato dos quadrinhos; a este feito podemos somar a participação de Art Spiegelman, em Maus, e Frank Miller, em O Cavaleiro das Trevas.

Alan Moore, buscando transcender as possibilidades dos quadrinhos, criou uma trama que envolvia histórias obscuras por trás dos super-heróis; esses arquétipos de perfeitos cidadãos também possuiriam problemas éticos e psicológicos, traumas, preconceitos, defeitos, entre outros pontos não observados nas histórias em quadrinhos até o lançamento de Watchmen. Moore ainda usou como pano de fundo uma história alternativa onde os Estados Unidos teriam vencido a Guerra do Vietnã e estariam prestes a entrar em um conflito nuclear com a União Soviética. Um pouco caótico, não? Ainda nem comecei... Após um pequeno incidente em um laboratório nuclear, o cientista Jonathan Osterman é transformado no Dr. Manhattan, uma criatura com poderes que vão desde a manipulação total da matéria até o controle do espaço temporal. Esse acidente fez com que o governo utilizasse, estrategicamente, Osterman como uma peça chave a fim de evitar conflitos e evoluir drasticamente sua tecnologia.

O primeiro obstáculo para Alan Moore e o ilustrador Dave Gibbons, muito importante no desenvolvimento da graphic novel, foi a escolha dos personagens a serem usados. A princípio seriam usados os personagens da MJL Comics (nessa ocasião em negociações com a DC Comics), optaram, porém, por usar os personagens recém comprados da Charlton Comics, todavia essa idéia foi descartada devido ao cuidadoso trabalho que a DC Comics vinha desenvolvendo para inserir esses heróis em seu universo. Dick Giordano, que havia trabalhado na Charlton Comics, sugeriu que Moore e Gibbons começassem a criação do zero, utilizando apenas algumas características de outros super-heróis. Essa reconstrução foi bem interessante para a época, já que tratou de modo subjetivo alguns estereótipos de heróis em evidência; desse mesmo modo podemos explicar a mudança dos trajes que o diretor Zack Snyder inseriu para criticar os “novos” fantasiados que estão invadindo o cinema. Com a resposta para esse problema, faltava então desenvolver a temática em volta da morte de um dos personagens. Os escritos originais preencheriam apenas seis volumes, entretanto as várias tramas menores, que englobam o passado e o presente dos vigilantes, conseguiram fazer com que Watchmen viesse a fechar com doze volumes.

A graphic novel começa quando Edward Blake, conhecido como Comediante, é encontrado misteriosamente morto. Todos encaram o fato como suicídio ou algo insignificante demais para ser melhor averiguado, já que o passado de Blake não era um dos melhores e ele poderia ter diversos inimigos. No entanto há Rorschach, o único vigilante na ativa e o único com capacidade para buscar vestígios do assassino; seja por tortura, invasões ou tendo poucas horas de sono. Sem saber qual será o desfecho do caso, o último vigilante (ou talvez o primeiro dos últimos) se depara com uma conspiração que envolve o desaparecimento de todos os super-heróis. Ao longo da história muitos personagens ganham importância, tais como Coruja, Júpiter, Ozymandias, Moloch e até o dono da banca de jornal!

É necessário ressaltar alguns pontos curiosos dentro da história, como o fato dos Estados Unidos proibirem a existência de heróis fantasiados. Estes foram banidos pela Lei Keene por agirem “acima da lei”, fazendo com que policiais entrassem em greve e cidadãos fossem às ruas para manifestar contra as ações dos vigilantes.

Tudo que mencionei não compreende nem um vigésimo da profundidade de Watchmen. Com um começo instigante e um final de cair o queixo, muitas questões acabam sendo levantadas: afinal, o que é melhor para o homem? Qual a solução para o caos urbano que ruma à antropofagia? Qual o sentido de viver sem se preocupar com o próximo? Espero que leiam, todos os quadrinhos estão disponíveis no fórum F.A.R.R.A. (necessário se registrar). Fiquem agora com o trailer oficial do filme, até mais!