terça-feira, 10 de junho de 2008

Cyberpunk

Implantes corporais, drogas, ciberespaço, cirurgias plásticas, anti-heróis, internet, música eletrônica, vírus, nanotecnologia, moda, cultura pop, quadrinhos e neuroquímica são apenas uma parcela dos elementos que compõem e constroem o estilo literário que deu uma certa revolucionada dentro da ficção científica na década de 80, seu conceitos, ao contrário de muitas obras, eram de que a tecnologia não viria para ajudar a vida dos homens, mas apenas para aumentar o vão que separa a burguesia dos marginalizados. Eu, particularmente, descobri o sub-gênero após ter apreciado a animação que lançou Akira para o mundo ocidental e também pude ter maior conotação do termo após ter assistido a trilogia Matrix, o qual foi baseado em uma das obras de cyberpunk mais importantes da época. A palavra cyberpunk, batizada por Gardner Dozois, editor da revista Isaac Asimov's Science Fiction Magazine, agrupa dois termos que estão sempre presentes nas obras do gênero: cyber (proveniente de toda tecnologia cibernética que vai desde o ciberespaço até as drogas constantemente utilizadas) e o punk (o uso desenfreado das ferramentas criadas pelo "sistema" contra ele mesmo).

O gênero cyberpunk começou a ser desenvolvido ainda na metade da década de 80, onde alguns escritores, como Bruce Sterling, publicavam as primeiras histórias do gênero sob pseudônimos na fanzine Cheap Truth. O termo foi empregado para o grupo de escritores Bruce Sterling, Rudi Rucker, Lewis Shiner, John Shirley, Pat Cadigan e William Gibson, cujas características literárias eram bem parecidas. O ambiente adquirido pela ficção cyberpunk não poderia ser mais caótico: a evolução abrupta da tecnologia, como nós mesmos temos assistido dia a dia, não conseguiu acabar com os problemas sociais, saindo então do meio capitalista e se afastando da utopia moderna que outros livros de ficção científica diziam sobre. O futurismo da tecnocultura moderna transformou-se no presenteísmo da cibercultura pós-moderna (André Lemos). A partir desse conceito, as histórias passaram a retratar os jovens que foram marginalizados por esse ambiente onde as megacorporações dominam o mundo, substituindo até mesmo o poder do Estado. Os cyberpunks, já tidos como anti-heróis, são drogados, hackers, rebeldes e desiludidos; aqui o determinismo funciona bem para descrever as motivações que levam esses jovens à adentrar o submundo das drogas e da "tecnologia". O anti-herói cyberpunk é o protagonista de histórias que envolvem desde sua "tecnofilia" até o uso da sua inteligência acima da média mundial para tentar destruir, ou ao menos provocar, o sistema.

Em 1984 foi lançado o livro Neuromancer, romance de William Gibson, um dos mais influentes escritores de cyberpunk. Neuromancer, além de ganhar diversos prêmios de ficção, foi o primeiro livro a usar o termo "ciberespaço" e se consolidou na ficção científica por conter diversos elementos que compunham o cenário cyberpunk. O protagonista da trama é Case, um drogado que vive em megalópole atormentada pelo caos urbano. Ele é coagido a invadir sistemas de computadores em troca de um tratamento para solucionar seus problemas com micro-toxinas que irão matá-lo em pouco tempo. Esse é o grande lance da literatura cyberpunk, retirar as sagas interplanetárias de viagens e conquistas, guerras intergalácticas e invasões alienígenas, para inserir um contexto pesado e problemático dentro de uma sociedade do futuro. A obra de Gibson é facilmente encontrada em qualquer livraria, basta dar uma procurada.

O fim do movimento cyberpunk se deu no final dos anos 80 (ou começo dos anos 90 se considerarmos as últimas obras publicadas do gênero). O maior motivo para isso foi o fato das pessoas não estarem mais se chocando com as histórias, isso se deve ao fato da grande aproximação do mundo imaginário cyberpunk com o nosso. É curioso reparar de certa forma o gênero antecipou os elementos que estariam presentes na cultura atual: drogas, música eletrônica, rock, tecnologia em alta, hackers, tribos, internet mais próxima dos marginalizados, cibercultura, poluição, caos das grandes cidades, crescimento de multinacionais, etc. O cyberpunk foi o gosto azedo de um futuro não muito doce que viria a seguir. Espero que tenham gostado do artigo que fiz para explicar sobre o gênero para alguns colegas e quem sabe não nos vemos neste Sábado na Livraria Cultura? Se algum leitor quiser, pode confirmar a presença pelos comentários.

Até a próxima!

Um comentário:

Jonatas Tosta disse...

fiquei triste porque você não citou a relação do ghost in the shell brutalmente copiado pelos criadores de matrix, não que seja algo ruim... não sou ninguem pra falar e é óbvio que matriz dividiu águas, alem de ser importante até mesmo pra tais obras menos conhecidas... ademais, adorei a iniciativa!

tava a fim de trocar banner se interessar: mandem pra jonatastb@hotmail.com