O Último dos Arquimagos
(A seguinte história passa-se cerca de dois mil anos antes dos eventos narrados em "A Guerra das Sombras")
I
“Glória ao antigo império que tanta luz trouxe ao mundo. Ó sol que já está se pondo, ainda agarro-me a sua luz. Pois que será de nosso povo mergulhado na escuridão?” (Tenari Ademos)
Naquele dia o sol queimou mais uma vez, amaldiçoando as terras áridas que circundam essas ruínas. O domo da velha catedral finalmente desabara por completo na noite anterior. Agora a praça central estava totalmente cercada de escombros, à exceção do imponente prédio dos arquivos, nosso maior tesouro. O povo estava cada vez mais aterrorizado. Antes fosse só a escassez de água e de comida que os tornasse melancólicos. Mas infelizmente havia algo mais...
Terminei de atravessar a praça silenciosa e entrei no prédio central. Um homem esperava-me.
— Magistrado, há algo que precisa ver. Uma mensagem de Etaerosaiod.
— Compreendo. Venha comigo, Aemar.
Seguimos pelos corredores da grande biblioteca, resquícios de uma civilização que decaía a cada momento. A visão dos tomos incontáveis me deixava cada vez mais melancólico, conforme as possibilidades de defender aquele tesouro tornavam-se mais insignificantes. Aemar, ao contrário, tinha o olhar esperançoso. Por muitos dias aguardamos essa mensagem, esse sopro de esperança. E agora, finalmente, ali estava a minha frente aquele papel, portador inocente do nosso destino.
Cheguei a meu gabinete que ficava no último pavimento. Uma larga janela desenhava-se atrás de minha mesa. A outrora gloriosa Roduan estava agora reduzida a escombros e ruínas, que se estendiam por uma área considerável. A exceção era a cidade nova, um conjunto de habitações simples construídas ao redor do prédio central em que me encontrava. Muralhas circundavam as construções recentes, protegendo-as. Distraí-me ao observar aquela paisagem triste, ponderava sobre o passado, sobre as histórias de guerra. Aemar ansiava-se com isso, pois ele desejava saber, precisava saber! Enquanto isso, o papel repousava em minhas mãos, sem que eu lhe desse a devida importância.
— Percebi sua ansiedade, Aemar. Não se preocupe. Vou ler a mensagem agora. Mas não espere demais de nossos amigos do norte. Eles têm seus próprios problemas, você sabe.
— Eu compreendo. E obrigado, Magistrado.
Percebi pelo tom de sua voz que minhas palavras não conseguiram acalmá-lo. Li o texto que a mensagem continha. Li vagarosamente todas as linhas, procurando apreender cada partícula de significado. No final, porém, vi que a mensagem era bastante simples, embora fosse muito surpreendente.
— Magistrado, e então?
— De fato, um exército vem do norte. Passaram ao largo de Tenari Aquinos.
— A terceira legião? Então é verdade? Eles vêm em nosso auxílio! — exclamou o pobre homem tomado de um intenso júbilo.
— Não seja tolo. Há muito que não existe terceira legião. Os reforços não são nossos, mas sim do inimigo. Parece que são cerca de dez mil homens. Pretendem nos massacrar.
Aemar nada disse em resposta, tamanha foi sua surpresa.
[...]
- Jorge Tavares
Existem mais três partes que infelizmente não couberam nessa postagem, mas basta clicar aqui para saberem sobre o final! LEIAM, pois vale a pena cada palavra. Para quem deseja saber mais sobre as obras de Jorge Tavares, basta acessar o site e o blog oficial d'A Guerra das Sombras.
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