quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Mapas

Já foi mencionado o possível uso de línguas imaginárias para o enriquecimento de uma obra fantasiosa, pois bem, hoje vamos falar sobre outro elemento que também dá dinamismo e um tom mais sólido aos livros de fantasia: o uso do mapa. Já imaginou ler O Senhor dos Anéis sem esse recurso?

A criação do mapa, é claro, dependerá do gosto do autor e o estilo do livro de fantasia que está sendo criado. Dependendo de como for a história, o universo e a mensagem que o escritor deseja transmitir, o uso dos mapas será desnecessário. Utilizo como exemplo dois grandes livros de Michel Ende, A História Sem Fim e Momo e o Senhor do Tempo, ambos riquíssimos em fantasia e vivacidade, cujo universos dispensam qualquer utilização de mapas, pois podem ser imaginados como bem o leitor desejar.

Se sua história contém elementos socio-políticos, geografia como ponto decisivo de uma batalha, jornadas que penetram em um mundo sombrio e vasto, o uso do mapas é de imediato uma grande ajuda; tanto para o leitor se localizar melhor, como para o próprio autor não se perder. É agora que deparamos com um pequeno problema, não são todos que nasceram com o dom de desenhar, muitos menos desenhar um mapa que se assemelhe a antigos modelos medievais, para esse caso existem duas saídas cabíveis: ou utilizar o Photoshop, Corel Draw ou outro programa semelhante, ou contratar um desenhista. A menos que você seja um escritor profissional ou tenha um amigo que desenhe maravilhas, a segunda opção se torna um tanto complicada. Para quem optar pela primeira saída, o site Santharia possui um tutorial completo (em inglês) sobre como fazer mapas, mas é necessário o uso do Photoshop (créditos ao Claudio Villa da Escritores de Fantasia).

Aconselho também uma pequena noção de Geografia, caso o mapa tenha funções mais realistas, e uma consulta a mapas medievais europeus, para que possam ser usados como modelos. Para quem já tem um mapa e quer visualizá-lo em três dimensões basta baixar esse programa desenvolvido por Lucas Maziero, integrante comunidade Escritores de Fantasia, neste site.

Se eu conseguir algum resultado com meus mapas, posto a imagem aqui. Por enquanto é só, até a próxima!

terça-feira, 21 de agosto de 2007

Mitologia Nórdica - Parte Final

Ragnarök

E o dia da vingança do lobo Fenrir (chamado também de Wolf-Joint) chegou por fim, era o último dia, o da batalha épica entre os Aesir, comandados por Odin e os gigantes, liderados por Loki (o deus das traições e um antigo Aesir). Estes dois grupos foram rivais desde o início dos tempos, mas os Aesir conseguiram ao longo de sua existência, prender alguns dos principais gigantes e o própio Loki, que ficou atado em tortura eterna numa caverna. Mas pela influência das mentiras de Loki, Midgard começa a sofrer grandes males, como uma rigoroso inverno, e a ter caos entre os seres humanos. Até a árvore da vida, Yggdrasil, foi devorada por um dragão.

O Sol e a Lua (Sol e Mani) são finalmente consumidos pelos dois lobos místicos, Skoll, perseguidor do Sol, e Hatri, perseguidor da Lua (ou Mani). Quando eles são devorados pelos lobos, a terra treme, e assim vários seres, incluindo Loki e Fenrir são soltos, desencadeando o Ragnarök.
Os deuses saltaram dos seus palácios e saíram nos seus cavalos para combaterem os gigantes do gelo e a sua banda de renegados e monstros horrendos. Ia dar-se início à luta final sobre a planície de Vigrid, segundo o que o destino tinha marcado desde o princípio dos tempos.
A batalha derradeira entre o exército do bem, formado pelos deuses do Aesir, os guerreiros escolhidos do Einheriar e os deuses do vento, os Vanas, e as forças poderosas e heterogêneas do mal, em cujas sinistras filas estavam desde a deusa da morte, Hel, até Loki e o seu filho, o lobo Fenris, passando pelos sempre temidos gigantes do gelo e de todos os monstros aliados.

Um instante depois, entre o estrondo da tempestade e a fúria de todos os elementos desatados, todos os inimigos estavam combatendo a morte, numa luta sem quartel, na qual dificilmente podia haver um vencedor.

Cada um dos combatentes selecionou o inimigo do seu tamanho, e assim Odin enfrentou o lobo Fenrir; Thor lançou-se contra a serpente dos mares de Midgard, Jormungard; Heimdall escolheu o traidor deus Loki como seu rival; Tyr balançou-se contra o cão Garn; sem dar-se um segundo de descanso, todos os adversários lutaram desesperadamente enquanto puderam manter-se em pé.

Mas também todos eles, sem exceção, foram sucumbindo perante os seus mútuos inimigos. Estava claro que nenhum deles podia vencer naquela loucura coletiva; enquanto os exércitos se matavam, o céu e a terra ardiam com as centelhas que arrojou o furioso Surt e, muito em breve, todo o Universo se consumia irremissivelmente nesse fogo aterrador que também o purificava para o sempre.

O ruído da luta parou; só restavam as cinzas, mas voltou a brilhar outra luz no céu: a filha póstuma da deusa sol, agora mais tênue e benfeitora. O calor do Sol surgiu outra vez; e da profundidade do bosque de Mimir, surgiram uma mulher e um homem, Lifthrasir e Lif (os dois únicos humanos sobreviventes do fogo), que tinham sido reservados da morte para repovoarem o novo mundo que tinha que suceder ao corrompido mundo primordial.

Os deuses da natureza, Vale e Vidar, também se debruçaram à paisagem que despertava a nova vida e encontraram-se com aqueles que nasceram para suceder aos doze deuses: os irmãos Modi e Magni, os filhos do deus Thor e da gigante Iarnsaxa, que traziam consigo o martelo do pai e as suas virtudes.

Apareceu depois Hoenir, seguiram-no pouco mais tarde os irmãos gêmeos Baldur e Hodur, filhos de Odin e Frigga. Os sete deuses descobriram felizmente que, além no alto do céu, Gimli, a morada celestial mais elevada, salvou-se da destruição total. Então, a partir desse recuperado canto do paraíso original, começaria o novo reinado de amor e cuidado sobre a nova humanidade e sobre a também renovada Terra.

domingo, 19 de agosto de 2007

Mitologia Nórdica - Parte IV

Os dois primeiros seres

Mas era necessário muito mais do que os elfos, bons e maus para dar sentido ao Universo. Os deuses pensaram que Midgard exigia a presença da mulher e do homem. Vendo perante si um Olmeiro (Embla) e um Salgueiro (Askr) juntos, à beira mar, Odin compreendeu imediatamente que dessas duas árvores teria que criar o homem e a mulher, a estirpe dos humanos.

Deu-lhes Odin a alma; Hoenir, o movimento e os sentidos; Lodur, o sangue e a vida. O primeiro homem, Askr, e a primeira mulher, Embla, estavam vivos e eram livres, tinham recebido o dom do pensamento e da linguagem, o poder de amar a capacidade da esperança e a força do trabalho, para governarem o seu mundo.

Deram origem a uma nova raça, sobre a qual eles os deuses estariam exercendo permanente a sua tutela. Mas Odin, deus da sabedoria e da vitória, era o protetor dos guerreiros aos quais proporcionava um especial afeto, cuidando deles da altura do seu trono, o Hlidskialf, enquanto vigiava o resto do Universo, no nível dos deuses, no dos humanos e no dos elfos.

Perto de lá estava Valhalla, a sala dos mortos escolhidos, o paraíso dos homens escolhidos entre os caídos em combate heróico. Era um palácio magnífico, ao qual se acedia por qualquer das quinhentas e quarenta portas, imensas portas (por cada uma podia passar uma formação de oitocentos homens em fundo), que davam para uma grande sala coberta de espadas tão brilhantes que iluminavam a estância, refletindo a sua luz no artesanato feito de escudos de ouro e nos peitilhos e malhas que decoravam os bancos, a sala de jantar e o lugar de reunião para os Einheriar, trazidos entre os mortos pelas Valquírias, montados nas suas cavalgaduras, após cavalgarem através do Bifrost.

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Mitologia Nórdica - Parte III

E nasceu a Terra

Só faltava fechar este novo mundo, então foi colocado sobre Midgard a abóbada craniana do derrotado gigante. Assim se fez, encarregando aos anões Nordri, Sudri, Austri e Wesdri a sua fixação em cada um dos quatro pontos cardeais que levavam os seus nomes.

Com o crânio posto no seu lugar, fez-se nascer o céu, mas ao colocá-lo os miolos espalharam-se pelo ar e com os seus restos criaram-se as nuvens. Só faltava a iluminação desse espaço e os deuses acudiram a Muspells, fazendo com o fogo da espada de Surd, fabricando com as suas centelhas as luzes do firmamento.

Com as duas maiores os deuses realizaram o Sol e a Lua, colocando-as sobre duas carruagens que girariam sem parar sobre Midgard, revelando-se incessantemente no céu, carroças guiadas pelos dois filhos do gigante Mundilfari, a sua filha Sol e seu filho Mani.

Ambas as carruagens, para manter viva a luta constante entre o bem e o mal, seriam eterna e inutilmente perseguidas pelos dois lobos Skoll e Hatri - encarnações vivas da repulsa e do ódio, que tratavam de alcançá-los, sem o conseguirem salvo em alguma rara ocasião (quando da terra se podia ver um eclipse do Sol ou da Lua), para conseguir o seu malvado objetivo de devorar o Sol e a Lua e fazer com que a escuridão perpétua caia de novo sobre o Universo.

Para fazer o dia e a noite encarregou-se ao belo Dag, filho da deusa da noite Naglfari, que levasse a carroça do dia, puxada por Skin (brioso cavalo branco que produzia com os seus cascos a brilhante luz do dia), enquanto Note, a filha do gigante Norvi, encarregava-se de conduzir a carroça preta da noite, puxada pelo seu negro cavalo Hrim (o que lançava à Terra o orvalho e a geada produzido pelo seu trotar).

Mais tarde, foram-se acrescentando ao cortejo celeste as seis horas e as duas grandes estações: o inverno e o verão. Já estava a Terra pronta para ser ocupada pelos primeiros seres criados pelos deuses.

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quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Mitologia Nórdica - Parte II

A guerra do bem e do mal

E os gigantes do mar viram o deus Buri, que acabava de engendrar o seu filho e aliado Bor. Compreenderam então que era o único momento no qual seria possível tentar vencer o bem. Então os gigantes começaram a guerra. As forças estavam demasiadamente igualadas e o combate já durava eras, quando Bor desposou a Bestla, a gigante filha do gigante Bolthorn, e dessa união tiveram três filhos, três aliados imediatos para sua causa: Odin, Vili e (representando o espírito, a vontade e o sagrado, respectivamente).

Com esta formidável ajuda, o novo exército do bem fez retroceder os malvados espíritos do gelo, até matar Ymir. Da grande quantidade de seu sangue, todos os gigantes, menos dois, se afogaram. Todos de sua raça morreram, exceto Bergelmir e a sua esposa, que puderam pôr-se a salvo a tempo, fugindo numa barca para o limite do mundo.

Do corpo de Ymir, os irmãos (Odin, Vili e Vé), criaram o céu e a terra. Com seu crânio ( em outras versões da sua pele ou de seus olhos marrons) construíram a Midgard (a Terra, também chamada de O País do Meio ou Jardim Central). Seus músculos usaram para encher o Ginnungagap; seu sangue para criar os lagos e os oceanos; seus ossos inquebráveis se tornaram montanhas; do seu pêlo surgiu a vegetação; as árvores foram feitas de seu cabelo e os dentes gigantes se tornaram rochas e pedras, também os desfiladeiros, sobre as quais colocaram as sobrancelhas do gigante, para fortificar a fronteira com o mar construído com o sangue e o suor de Ymir.

Mas, muito distantes deles, Bergelmir e a sua mulher alcançaram uma inóspita terra que afetava pouco essas criaturas do frio, estabelecendo-se em um lugar ao qual chamaram Jotun (ou ainda Jotunheim, País do Leste ou País do Gelo), a casa dos gigantes, onde começaram a dar vida a outra raça de gigantes do gelo, para continuar a renovada luta das forças opostas.

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terça-feira, 14 de agosto de 2007

Mitologia Nórdica - Parte I

Jogando um MMORPG bastante conhecido entre alguns (sim, assumo que é um dos meus passatempos prediletos jogar Ragnarök Online) tive a idéia de falar um pouco sobre o que foi realmente o Ragnarök na mitologia nórdica, mas para isso terei de contar desde o início da criação, para que tudo faça mais sentido.

O mito da criação nórdica

Quando ainda não existia nem a Terra, nem o mar e nem o ar, quando só existia a escuridão, já estava lá o Pai. Ao começar a criação, mesmo no centro do espaço abria-se o Ginnunga (ou Ginnungagap) - terrível abismo sem fundo e sem luz, circundado por uma massa de vapor. Ao norte estava a Terra de Niflhein - o mundo de água e escuridão que se abria ao redor da eterna fonte de Hvergelmir.

Dessa fonte nasciam os 12 rios do Elivagar, as doze correntes que corriam até a borda do seu mundo, encontrando-se com o muro de frio que gelava as suas águas. Estas escoavam abismo adentro, com um estrondo ensurdecedor, para muito longe de sua origem, onde em alguns pontos congelavam, formando assim camadas sobrepostas de gelo que foram pouco a pouco preenchendo este abismo.

Ao sul deste caos estava a doce terra de Muspells (ou Muspelsheim) - país do fogo, o cálido lar do fogo elementar, cuja custódia estava encomendada ao gigante Surt (ou Surtur) - gigante do fogo que lá vivia. Este gigante era quem lançava nuvens de centelhas ao brandir a sua espada chamejante, enchendo do seu fogo o céu, mas este fogo quase não conseguia fundir o gelo do abismo e o frio venceria de novo, fazendo com que se elevasse uma coluna de vapor que também não podia fugir do abismo.

Deste lugar surgiu o gigante Ymir, a personificação do oceano gelado, com fome voraz, que só pode saciar com outra criatura nascida ao mesmo tempo que ele. A mistura continuou e dos pedaços de gelo nasceu a gigante vaca Audumla (símbolo da fecundidade), de cujas tetas brotavam quatro rios de leite. Audumla, procurando avidamente o seu alimento, lambeu um bloco de gelo e, fundindo-o com a sua língua, fez aparecer o bom deus Buri, enterrado muito tempo antes nos gelos perpétuos (há uma outra versão em que ele nasce do leite que cai das tetas de Audumla).

Mas enquanto isso, Ymir adormecido pariu sem reparar, com o suor de sua axila, Thrudgelmir, o gigante de seis cabeças, e este fez depois nascer o seu companheiro, Bergelmir, e dos dois saiu a estirpe de todos os gigantes malvados do gelo.

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Continua em breve!

terça-feira, 7 de agosto de 2007

Tiamat

Tiamat é a deusa dos elementos (terra, ar, fogo, água e metal) nas mitologias babilônica e sumérica. Não existe uma descrição precisa que permite associá-la com total certeza à alguma criatura, no poema épico Enuma Elish (poema da antiga Babilônia, escrito em sete tábuas, que conta o mito da criação) a descrição da Tiamat contém: uma cauda (rabo), coxas, partes baixas, abdómen, tórax, cabeça e pescoço, olhos, narinas, boca e lábios, e por dentro artérias, coração e sangue. Assim é difícil saber se ela aparentava ser um dragão (sendo a forma mais retratada por escritores e desenhistas) ou uma serpente.

Contudo, há uma etimologia semita que dá a entender que a Tiamat era mesmo uma serpente. No mito fragmentado Astarte e o Tributo do Mar, há uma menção de Ta-yam-t o que parece ser uma referência de uma serpente (*Ta - *Tan) marítima (*Yam) feminina (*t). Se essa etimologia estiver correta, isso poderá explicar a conexão entre Tiamat e Leviatã.

No Enuma Elish, Tiamat é tratada como a criadora de tudo (até mesmo dos dragões e das serpentes) e os deuses seriam seus filhos, netos e bisnetos. Ainda assim, Tiamata representa o caos e obscuridade, por isso é morta por Marduk, segundo a Bíblia, deus protetor da Babilônia. Segue então a história mitológica da luta entre o bem e o mal.

O deus Ea (Enki ou ) matou Apsu, acreditando que este havia se elevado com o caos e que planejava assassinar os deuses mais novos. Isso enraiveceu Kingu - filho de Tiamat e Apsu - o qual reportou o fato à Tiamat, que criou mais monstros para lutar contra os deuses. Tiamat possuía as Tabuletas do Destino e na batalha decisiva decidiu dá-las à Kingu, o qual era agora líder dos seus exércitos. Os deuses ficaram desesperados, mas Marduk (Anu - filho de ) fez uma promessa de que seria reverenciado como o Rei dos Deuses. Ele batalhou contra
Tiamat, armado com Flechas do Vento, uma rede, um cajado e sua Lança Invencível.

E o senhor prevaleceu sobre o corpo machucado de Tiamat
E com seu cruel cajado esmagou sua cabeça
Ele cortou as veias por onde passavam seu sangue
E fez o vento do norte correr por lugares secretos


Cortando Tiamat ao meio, fez de seu tórax o vácuo entre o céu e a terra. Seus olhos cheios de lágrimas se tornaram a fonte do Rio Tigre e Eufrates. Com a permissão dos outros deuses, as Tabuletas do Destino foram tomadas de Kingu, instalando-se como o cabeça do Templo Babilônico. Kingu foi capturado e posteriormente assassinado, seu sangue foi misturado com a terra vermelha, criada do corpo de Tiamat, para então formar o corpo da humanidade, criada para servir os deuses mais novos Igigi.

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

O Hobbit

Após a trilogia de Philip Pullman, vamos falar sobre o grande autor da trilogia mais famoso no mundo, o mestre J. R. R. Tolkien. Senhor dos Anéis é talvez o melhor escritor de fantasia que já existiu, mas sou suspeito para afirmar isso, pois é um dos meus escritores favoritos (perdendo talvez para Michael Ende). Para dar mais foco em Senhor dos Anéis, vamos começar falando do livro que o antecedeu: O Hobbit.

"Num buraco na terra vivia um hobbit"

John Ronald Reuel Tolkien, professor de literatura em Oxford, deu "início ao início" da sua obra máxima por um acaso. Essa frase escrita por ele, enquanto corrigia algumas redações dos seus alunos, foi o pontapé inicial para O Hobbit, que começou a ser escrito dois anos depois. Em 1937 é publicado o livro que marca a saga dos hobbits na mítica Terra Média.

A história fala sobre Bilbo Bolseiro, um pacato cidadão do Condado, que certo dia é visitado por Gandalf, o Cinzento, e mais treze anões: sendo um deles Thorin Escudo de Carvalho, descendente dos reis que governaram Erebor, a Montanha Solitária. Com eles então partiu, em busca das grandes riquezas acumuladas pelos anões, mas roubadas por Smaug, o dragão que habitava a Montanha Solitária. Um "acidente" no desenrolar da aventura acaba por se mostrar muito importante no final das contas. Durante a travessia nas Montanhas Sombrias até as Terras Ermas, o grupo é assaltado, e levado às profundezas das montanhas, por orcs; acontece então que Bilbo, ao se perder dos outros, tateia o chão e encontra um anel. Porém Bilbo só vê a importância do anel quando, depois de um jogo de charadas com uma "criaturinha repugnante" chamada Gollum, este entra sem querer em seu dedo e assim lhe confere o poder de invisibilidade. Com o auxílio do anel ele escapa dos túneis-orcs e reencontra seus companheiros.

Depois de algumas pequenas aventuras (contando com o encontro com Beorn), o grupo é preso pelos elfos, enquanto percorre a Floresta das Trevas. Com o anel, Bilbo consegue escapar e libertar os anões. Todos partem para Esgaroth, a Cidade do Lago, e de lá rumam para a Montanha Solitária, onde o dragão repousa. Durante algum tempo, Bilbo apenas examina o que sobrou dos salões que abrigam os tesouros (e o dragão). Em um desses exames, o hobbit descobre o ponto fraco do dragão e comunica isso aos anões; porém um tordo, que falava e compreendia a língua dos homens, ouve essa informação. Esse tordo então avisa Bard, um dos capitães da Cidade do Lago, que acaba por matar Smaug em uma das suas investidas à cidade.

Com o dragão derrotado, os tesouros dos anões estavam a mercê de qualquer um, homem ou elfo, que os quisesse. Assim, logo se reuni um exército elfo e humano para resgatar o tesouro perdido, ignorando o fato de que os anões ainda estavam vivos. É também através dos corvos que os anões ficam sabendo o que se passa e, por isso, decidem chamar os seus familiares mais próximos para os acudir: os anões das Colinas de Ferro. Dias depois, ficam sabendo, por Gandalf, que um exército de orcs e wargs estava se dirigindo para o local. Seria travada então a Batalha dos Cinco Exércitos; batalha ganha pelos humanos, elfos e anões.

No final desta batalha, Bilbo regressa a sua toca, com uma pequena parte do tesouro, uma sacola de prata e outra de ouro, e um anel que mudaria sua vida. É assim que vemos a transformação do acomodado Bilbo, para o corajoso hobbit que enfrentou trolls, orcs e até um dragão. A felicidade que Bilbo obtera através dessa longa jornada, não se resumiu apenas em tesouros e riquezas, mas na experiência e nas histórias que pode contar para todos jovens hobbits do Condado (incluindo seu sobrinho Frodo).

O ritmo da narrativa não é tão intenso quanto Senhor dos Anéis ou Silmarillion, mas a mágica típica de livros de contos de fada te conduz pelas páginas do livro. Recomendando para aqueles que gostariam de saber mais sobre a origem do Anel e sobre as aventuras de Bilbo. Dá-lhe Tolkien!

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

A Bússola Dourada

A Bússola Dourada (ou "de Ouro", na edição mais recente do livro; The Golden Compass no original) é o primeiro livro da trilogia Fronteiras do Universo (His Dark Materials), escrita por Philip Pullman, seguido por A Faca Sútil e A Luneta Âmbar (que falarei em outra oportunidade). A trilogia rendeu ao autor os prêmios The Guardian Children’s Fiction Prize e Carnegie Prize, e a indicação da Publishers Weekly como o melhor livro de 1996 para público jovem. Tudo isso graças a narrativa envolvente e aos elementos que dão um ar de mistério ao mundo de Pullman, como a metafísica, a filosofia e a simbologia bíblica. Traduzido para 17 idiomas, Fronteiras do Universo vem cada vez mais cativando leitores, jovens e adultos, ganhando até uma adaptação cinematográfica, que estreiará no final do ano pela New Line (a mesma que trouxe Senhor dos Anéis).

A história gira em torno de Lyra Belacqua, uma menina de 11 anos que vive numa dimensão paralela, onde cada ser humano possui um daemon, um animal metamórfico que vive ao nosso lado e não podemos nos separar deles. Lyra vive na universdade de Oxford, onde brinca com seus amigos e estuda, mas sua rotina começa a mudar quando, escondida em um armário na Sala Privativa, presencia uma reunião dos Catedráticos. Nela, seu tio, Lorde Asriel, mostra fotos e diz coisas desconhecida para ela até então, como "Pó", "criança seccionada" e "panserbjornes". Algum tempo após o ocorrido, seu amigo Roger desaparece e surgem assustadores rumores de que um grupo, intitulado "papões", captura crianças para fazer experiências. Como se não bastasse tantos acontecimentos inesperados, Lyra é deixada aos cuidados da Sra. Coulter, uma mulher amigável, mas ainda perigosa, e recebe do Reitor de Oxford um presente, uma bússola de ouro.

O desenrolar da trama é sensacional, Lyra nunca pára no lugar, enfrentando diversos desafios junto de seus vários amigos, como Iorek, o urso de armadura, para salvar seu amigo Roger, descobrir o enigma que é o "Pó" e sua ligação com a Igreja, e entender o significado da bússola de ouro.

Este é o site do filme, que até agora se manteve fiel a série, alegrando todo mundo que teme uma má adaptação. Vamos esperar até o final do ano, quem sabe não sai algo tão épico quanto Senhor dos Anés, não é?

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Kraken

Kraken foi um lendário monstro marinho, em forma de polvo ou lula, que ameaçava e destruía navios nos mares da Noruega e da Islândia. O tamanho colossal e a ferocidade fizeram dele o tornaram um mito, conseqüentemente uma criatura muito requisitada em livros de ficção. A lenda pode ter sido originada de visões de lulas gigantes, que podem atingir 13 metros, incluindo os tentáculos; essas criaturas são raras e normalmente vivem nas profundezas, mas podem ter sido vistas na superfície e reportadas atacando pequenas embarcações. Kraken é o plural de krake, uma palavra de origem escandinava designada a algo insalubre. No alemão moderno, krake pode significar polvo, mas não se refere ao lendário Kraken.

Embora o nome Kraken não apareça nas histórias escandinavas, haviam monstros similares a ele, como o hafgufa e o lyngbakr, ambos descritos em Örvar-Odds saga e no texto norueguês de 1250, Konungs skuggsjá. Na primeira edição do livro Sistema Natural, do zoologista Carolus Linnaeus, kraken foi classificado como cefalópode e seu nome científico ficou como Microcosmus, porém foi excluído nas edições seguintes. Kraken, por séculos, foi objeto de estudo, Pontoppidan o descreveu como "do tamanho de uma ilha" e afirmou que o perigo não era ele em si, mas sim a redemoinho que se formava após ele mergulhar rapidamente para o fundo do mar, e inspiração para muitos escritores de ficção, como Júlio Verne, em seu livro Vinte Mil Léguas Submarinas ou em filmes, como o mais atual Piratas do Caribe.

Alfred Lord Tennyson, poeta inglês famoso por seus poemas que remetem temas mitológicos, descreveu Kraken da seguinte forma:

Sob os trovões da superfície, nas profundezas do mar abissal,
o kraken dorme sempiterno e sossegado sono sem sonhos.
Pálidos reflexos se agitam ao redor de sua forma obscura;
vastas esponjas de milenar crescimento e alturas
e inflam sobre ele,
e no fundo da luz enfermiça polvos inumeráveis e enormes
agitam com braços gigantescos a verdosa imobilidade de
secretas celas e grutas maravilhosas.
Jaz ali por séculos e ali continuará adormecido,
cevando-se de imensos vermes marinhos,
até que o fogo do Juízo Final aqueça o abismo.
Então para ser visto por homens e por anjos,
rugindo sugirá e morrerá na superfície.

Desculpem-me pela simplicidade do texto, mas tive de eliminar muitos fatos que tornariam a leitura enfadonha. Para quem se interessou e deseja ler mais sobre Kraken aqui vão os seguintes sites de onde tirei as informações:

Wikipédia - Kraken (em inglês)
Un museum (em inglês)
Colosseum - Kraken (em espanhol)

Até a próxima!

Línguas Imaginárias

Para quem conhece a fundo os livros de fantasia e ficção científica, sabe da importância da língua imaginária para a própria construção e o enriquecimento do universo criado. É claro, existe uma grande discussão em torno desde "detalhe", muitos escritores acham muito trabalhosa e desnecessária a criação de uma língua imaginária, que supostamente "pouco importará na trama", outros defendem que a língua é a mais uma forma de tornar o universo imaginário mais exótico e menos frustrante. J. R. R. Tolkien, cujo maior hobby era criar dialetos, utilizou sua maior obra, Senhor dos Anéis, apenas como pano de fundo para suas línguas. Aqui Tolkien já não pode mais servir como um bom exemplo, já que a língua imaginária é aconselhada justamente para incrementar a cultura, a religião e os costumes do universo, e não para que o mundo gire em torno dela. Tudo depende de onde a cabeça do escritor quer chegar.

Sou do tipo de pessoa que não tem muita paciência e nem prazer em criar línguas, regras gramaticais ou coisas do tipo, mas ainda acho essencial uma língua artificial. Por isso recomendo criar apenas o básico, o "esqueleto" dela, isso irá garantir que você consiga deixar válido nomes de personagens, de cidades, regiões, deuses e que consiga até fazer runas.

Para a criação é necessário saber outras línguas? De certa forma não, o importante é ter uma boa noção de língüistica, entender como as palavras são formadas e compreender as regras gramaticais. E para estas, uma criatividade aguçada ajuda muito, já que existem quase incontáveis línguas ao redor do mundo, e as chances de criar uma regra única são baixas.

Para quem se interessou pelo assunto o The Language Construction Kit (em português) possui todo um tutorial de como criar sua língua. No Orkut, a comunidade Línguas Imaginárias reuni glossopoetas e discute sobre diversas (e põe "diversas" nisso) línguas artificiais.

Leviatã

Depois de falarmos do lendário Behemot, vamos abordar a outra criatura citada na Bíblia.

Leviatã (em hebraico "liviatan")

Monstro marinho bíblico, de dimensões enormes e rei de todas as criaturas do mar. Deus matou a fêmea da espécie para impedir que o casal procriasse e destruísse o mundo, e fez de sua pele roupas para Adão e Eva. No fim, na Idade de Messias, Ele fará Gabriel matar o macho, ou, segundo outra versão, fará com que o gigantesco Behemot trave uma batalha com Leviatã até que se matem mutuamente. No grande banquete messiânico para os justos, a pele do Leviatã servirá de toldo gigantesco e sua carne será comida. Os olhos do Leviatã iluminam o mar à noite, e a água ferve com o hálito quente de sua boca. O odor fétido pode superar até a fragrância do jardim do Éden, e se seu fedor lá penetrasse, ninguém poderia sobreviver. De acordo com a tradição cabalística, o Leviatã representa Samale, o príncipe das trevas que será destruído em tempos futuros.

Livro de Jó, capítulo 41

Poderás tirar o anzol o leviatã, ou ligará a sua língua com uma corda?
Podes pôr um anzol no seu nariz, ou com um gancho furar a sua queixada?
Porventura multiplicará as súplicas para contigo, ou brandamente falará?
Fará ele aliança contigo, ou tomarás tu por servo para sempre?
Brincarás com ele, como se fosse passarinho, ou o prenderás para tuas meninas?
Os teus companheiros farão dele um banquete, ou o repartirão entre os negociantes?
Encherás a sua pele de ganchos, ou a sua cabeça com arpões de pescadores?
Põe a tua mão sobre ele, lembra-te da peleja, e nunca mais intentarás.
Eis que é vã a esperança de apanhá-lo; pois não será o homem derrubado só ao vê-lo?
Ninguém há tão atrevido, que a despertá-lo se atreva; quem, pois, é aquele que ousa erguer-se diante mim?
Quem primeiro me deu, para que eu haja de retribuir-lhe? Pois o que está debaixo de todos os céus é meu.
Não me calarei a respeito dos seus membros, nem da relação das suas forças, nem da graça da sua compostura.
Quem descobriria a superfície do seu vestido? Quem entrará entre as suas queixadas dobradas?
As suas fortes escamas são excelentíssimas, cada uma fechada como com selo apertado.
Uma à outra se chega tão perto, que nem um assopro passa por entre eles.

[...]

Se quiserem ler o resto do capítulo, que vai até versículo 34, basta clicar aqui.