quinta-feira, 26 de junho de 2008

Tigres de Areia

Desde que comecei a levar a escrita como algo sério, vi que os horizontes para ela podem ser amplos. Sempre fui um fã assíduo de fantasia, sempre; isso talvez por ter tido contato com RPG muito cedo, o que me levou a conhecer Forgotten Realms, Tormenta e Holy Avenger, por exemplo. A idéia de escrever um livro, podendo inserir histórias fantásticas nas cabeças dos meus "futuros leitores" sempre me pareceu excitante, mesmo quando não tinha base sequer para uma redação mais elaborada. O tempo passou e os livros que li, as pessoas que conheci e os meios em que tive o prazer de estar, me mostraram que nada é tão simples assim, para qualquer objetivo é preciso de esforço, dedicação e um bom conhecimento. Minha primeira iniciativa foi criar um lugar onde eu pudesse colocar minhas poesias para que outros leitores criticassem-na, isso foi quando surgiu meu extinto blog Poesia Morta. Poesia sempre foi uma paixão minha; paixão que se tornou absoluta quando descobri que a forma da poesia pode ser direta, mas ainda assim expressar tantos, ou mais, sentimentos que uma prosa. Apesar de tudo, ainda não me sentia satisfeito o bastante.

Recomendações de colegas da Escritores de Fantasia, há um bom tempo atrás, indicaram que o melhor modo de um aspirante a escritor começar a ter noções da estrutura de um texto, seria escrevendo contos. Contos são interessantes por sua estrutura rápida, objetiva e muitas vezes chocante. A princípio detestei a idéia: escrever uma história em poucas páginas não me era agradável, parecia mais um sacrifício. Após quebrar a cabeça com textos longos e carregados, decidi investir mesmo em contos e foi aí que surgiu uma nova paixão; paixão que tive o prazer de dividir com um grande amigo meu que também aprecia a arte dos contos (mais especificamente os micro-contos).

Conversas de MSN, teorias sobre como poderia surgir uma nova escola literária, discussões sobre autores e a constante troca de textos, permitiram que surgisse o blog Tigres de Areia. O blog, que na verdade é um projeto que ainda dará frutos, basicamente apresenta textos meus e do meu amigo Willian Sertório. Como somos admiradores da Mojo Books, resolvemos também colocar os contos que mandamos para lá (e que felizmente verifiquei que estão na lista de análise), assim não desperdiçamos nenhum material que passou de "MSN a MSN". Não posso revelar ainda quais são as pretensões do blog, pois ele necessitará de alguns elementos fundamentais para funcionarem (de qualquer forma, todas as novidades serão devidamente colocadas por lá).

Bom, fica aqui a dica de leitura. Sintam-se a vontade para entrarem lá e criticarem como bem entenderem, afinal, nós dois precisamos de uma avaliação rigorosa além da nossa própria.

Também gostaria de avisar que estarei de mudança (não de blog, mas de casa mesmo), por isso é possível que eu fique sem internet por uma semana; espero que entendam a falta de artigos nessa primeira semana de Julho. Até mais pessoal!

terça-feira, 24 de junho de 2008

As Cosmicômicas

É simplesmente uma ficção científica que se desenrola em um passado tão obscuro, mas tão obscuro, onde poucas estrelas despertaram em todo seu esplendor, onde o vácuo predomina toda a imensidão do universo e onde milênios passam como se fossem minutos. Somado a este mundo estão romances lunares, famílias que habitam uma nebulosa, um dinossauro que se adapta em uma vila de humanos em plena extinção de sua espécie, um mundo completamente sem cores e um herói com um nome impossível de ser pronunciado. Assustados? Confusos? Eu também fiquei ao ler basicamente esse resumo sobre essa maravilhosa obra do escritor italiano Ítalo Calvino.

As Cosmicômicas, como já disse, é um livro muito excêntrico, acho que é diferente de tudo que já li. Impossível dizer se ele é realismo fantástico, fantasia ou simplesmente ficção científica; os doze contos, independentes entre si, formam uma história muito superior a qualquer tentativa de classificação. O tema central do livro é a origem do universo e o desenvolvimento dos primeiros seres terrestres (e cósmicos, pois muitos personagens vivem no universo, antes mesmo da criação de qualquer planeta ou galáxia). O herói se chama Qfwfq, ele acaba por fazer o papel de narrador e protagonista, sendo na pele de um único ponto ou de um membro dos primeiros vertebrados terrestres. É interessante ver que o tempo é insignificante no decorrer das histórias, enquanto Qfwfq torna-se uma mera testemunha ocular das teorias científicas e antropomórficas do surgimento de tudo. Por se tratar de um livro bem humorado, cada conto (ou capítulo se preferirem) é acompanhado por um parágrafo de teor científico que aborda o que virá ser a história, esta que acaba por ignorar a explicação áspera para dar uma abordagem mágica e surreal à história que se passa.

Ítalo Calvino nasceu em Cuba, mas, logo após o seu nascimento, retornou com a sua família para a Itália. Formado na faculdade de Letras, participou da resistência ao fascismo durante a guerra e foi membro do Partido Comunista até 1956. Calvino, renomado jornalista e escritor de contos, ficou marcado na literatura internacional após ter escrito os livros As Cosmicômicas, Cidades Invisíveis e Se um Viajante Numa Noite de Inverno.

Ao longo do tempo muitos estudiosos tentaram classificar o estilo de Ítalo Calvino, o que abrangeu desde conto de fadas até o termo realismo fantástico; o único fato é que suas obras expressam de modo amplo o sentimento do que é o pós-modernismo. O experimental As Cosmicômicas não foge desse sentimento, possuindo histórias divertidas, mas com idéias simbólicas bem subjetivas. Os leitores, mesmo sem nunca terem lido outra obra de Ítalo Calvino, poderão rapidamente captar a profundidade dos contos; contos que são reflexos dos problemas sociais ou pessoais dos dias atuais. Vale dizer que um dos que inspiraram esse grande escritor contemporâneo foi Jorge Luis Borges, o qual eu falarei sobre seu livro Ficções em breve.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Orcs

Velhos conhecidos do bom "pilhar, matar e destruir"! Quem leu os livros de J. R. R. Tolkien, jogou pelo menos algumas partidas de Dungeons & Dragons ou ainda perdeu algumas horas com um jogo de RPG ou aventura, conhece há um bom tempo esses seres que costumam fazer o papel de capatazes dos vilões, mercenários sem qualquer código de honra ou ainda criaturas terrivelmente malvadas; é claro, todos estereótipos bem clichês e visivelmente deixados pela trilogia O Senhor dos Anéis.

Os orcs (ou ainda denominados orks) são criaturas malévolas que povoaram a cultura germânica, mas que saltaram para a fantasia medieval quando foram empregados em diversos livros de fantasia. A aparência de um orc é caricaturesca; ele possui uma pele enrugada com uma tonalidade que varia do verde ao marrom, possui olhos avermelhados, algumas vezes carrega presas salientes que formavam um rosto semelhante ao de um javali, os orcs normalmente são grandes, musculosos e muitas vezes mais aptos a trabalhos que envolvem força física que os homens, possuem também orelhas pontudas, narizes deformados e pêlos em todo o corpo. Todos esses atributos somam-se com a mutabilidade e a adaptabilidade da fisiologia do orc, tornando-o uma criatura perigosa desde seu nascimento; e muito requerida por vilões, assim como vemos em tantas obras de literatura fantástica ou ainda em jogos de RPG.

A palavra "orc" possui uma etimologia bem misteriosa; J. R. R. Tolkien foi quem usou o termo pela primeira vez em um livro de ficção para nomear os seres que conhecemos hoje. O termo foi derivado de orc, uma palavra pertencente ao Antigo Inglês que significa demônio. Orc foi provavelmente extraído também da palavra þyrs, que é cognato de þurs, termo retirado do Velho Nórdico que significa gigante ou ogro; essa palavra era utilizada para designar um monstro descendente do gigante Ymir. Em Beowulf a palavra orc também aparece, contudo referindo-se à uma taça de metal preciosa. Existem também teorias de que a palavra possivelmente fora inspirada em orque, huorco e orco, todas palavras diferentes, mas que possuem o mesmo significado e a mesma origem, que no caso é da palavra em latim orcus. Orcus era o nome do deus romano da morte, este era considerado demoníaco, maligno e ogro; provavelmente foi o que derivou o estranho termo orc do Antigo Inglês. J. R. R. Tolkien, porém negou o uso do termo em função da etimologia vasta, como vocês viram, dizendo que se inspirou no latim orca, referente à baleia. Vale lembrar também que a tradução para o português do livro O Hobbit foi ignorante ao traduzir goblins como orcs; criaturas de naturezas distintas.

Uma tribo de orcs se organiza de forma bem rudimentar e selvagem. Sua sociedade é puramente militarista, tendo em seu comando um general que comanda com auxílio de capitães. Em alguns livros os orcs são guiados por xamãs ou líderes mais velhos e, portanto mais sábios. De natureza xenofóbica, os orcs não costumam se misturar com demais raças, a não ser que estas sirvam de escravos até o final dos seus dias. Com sua postura inteiramente bélica e sem escrúpulos, J. R. R. Tolkien tentou retratar a sociedade que existia durante a Segunda Guerra Mundial, onde soldados matavam, destruíam e sempre marchavam em frente, ignorando tudo e nunca se importando pelo o que estavam exatamente guerreando. Ele também via nos orcs as indústrias e o avançar das máquinas sobre os homens, o que causava poluição, degradação do meio ambiente e a exploração de trabalhadores.

No livro Listerim Braner - O Começo de Tudo a origem dos orcs propriamente ditos se confunde com a criação dos elfos. A lenda contava que o deus Ortus havia decidido criar seres incríveis, de beleza imensurável e que poderiam viver eternamente se cumprissem o ritual de sempre comparecerem à Filiimei há cada dez mil visões da Lua. Acabou que surgiram três raças de elfos: a Walere, a Discendö e a Magnus. Esta última era composta por elfos robustos e maiores, eram também menos inteligentes e que possuíam um gênio cruel para com outros seres. Decepcionado, Ortus os baniu das terras de Filiimei, sendo estão condenados a viver na Floresta Negra, que se estendia da Alemanha até o Mar Mediterrâneo. Não sendo o bastante, Ortus decidiu privá-los da beleza, assim tornou suas aparências terríveis e dignas dos seus gênios. Há uma série de fãs da Terra Média que criam teorias que envolvem o mesmo raciocínio dessa lenda para explicar o surgimento dos orcs.

Hoje em dia você pode encontrar um orc em qualquer livro de fantasia. Muitos inventaram genéricos para fugir do clichê óbvio que se tornou a criatura malvada que é o orc; como os urgals da série A Herança de Christopher Paolini. O bacana para quem costuma escrever contos de alta fantasia é fugir desse maniqueísmo iniciado pelo velhinho inglês; às vezes o homem se mostra mais perverso que qualquer outra criatura. Bom, espero que vocês tenham gostado, até a próxima e por favor: sugiram assuntos!

terça-feira, 17 de junho de 2008

Fantasticon 2008

Eu já tinha em mãos essa notícia há certo tempo, mas evitei colocá-la aqui no Falando de Fantasia porque queria que todos vocês, leitores, não deixassem de participar por terem esquecido a data, local e outros detalhes. Nos dias 5 e 6 de Julho, o Colégio Marista Arquidiocesano, na Vila Mariana, em São Paulo, sediará a Fantasticon 2008 - II Simpósio de Literatura Fantástica; evento que integrará o XVI Encontro Internacional de RPG.

Nem preciso dizer que os apreciadores dos gêneros terror, fantasia e ficção científica irão aparecer em massa. Quem foi nos debates realizados na Livraria Cultura sabe do gostinho que ficou para pegar cada assunto para discutí-lo ao máximo, por isso mesmo a Fantasticon 2008 contará com palestras, workshops, mesas-redondas, mostra de curtas, lançamentos, exposições, entre outras atividades mirabolantes. Espero que os caros leitores do Falando de Fantasia façam uma força para comparecerem por lá! Para mais informações, acessem essa página do Universo Fantástico que contêm toda a programação e a relação de todos os palestrantes.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Sobre a mesa-redonda na Livraria Cultura

Nesse último Sábado, eu, acompanhado dos meus amigos, incluindo o colaborador Guilherme Henrique, fui à tão esperada mesa-redonda sobre literatura fantástica que rolou na Livraria Cultura do bairro Morumbi, em São Paulo. Com sucesso e muita paciência, sai do interior de São Paulo e andei por quatro diferentes linhas do transporte ferroviário para então chegar ao local marcado. Foi uma viagem cansativa, mas nada se comparado aos apuros que nosso camarada Ulisses teve de passar em sua odisséia.

Em primeiro momento avistei algumas figuras bem conhecidas na comunidade Escritores de Fantasia, lá estavam: Antonio Luiz, criador da comunidade, Claudio Villa, escritor do romance Pelo Sangue, Pela Fé, Ana Cristina, presidente do Clube de Leitores de Ficção Científica e mediadora do evento, Douglas, reconhecido pelo Necrópolis, Christie, autora que recentemente lançou o livro Fábulas do Tempo e da Eternidade, Marcelo Augusto, Mushi, criador da fanzine Mushi Comics, e, não menos importante, Horácio, organizador da mesa-redonda. É claro que os que só se conheciam pela comunidade ficaram com receio de se cumprimentarem, mas ainda assim a recepção platônica foi calorosa. Alguns minutos após a abertura do auditório, já se viam muitas pessoas interessadas na mesa-redonda, algo que se consolidou logo que a sala se mostrou cheia. Entre a platéia estavam alguns convidados inesperados, tais como André Vianco, que dispensa apresentações, e Ludimila Hashimoto, tradutora dos livros Voz do Fogo, de Alan Moore, e da série Discworld, de Terry Pratchett. A mesa que daria início ao debate caloroso que rendera três horas ficou por conta de Ana Cristina, Claudio Villa, Orlando Paes Filho, autor da série Angus, Delfín, coordenador editorial da Editora Aleph, Sílvio Alexandre, organizador da Fantasticon, Rogério Campos, editor-chefe da Editora Conrad, e Gianpaolo Celli, editor-chefe da Tarja Editorial.

O debate começou com uma breve, não tão breve assim, apresentação dos participantes da mesa; o melhor desse momento foram algumas revelações do que viria a ser a Fantasticon. Infelizmente o tópico sobre New Weird fora diluído, mas ainda assim todos os demais foram devidamente respeitados. Alguns assuntos que caíram na mesa devem uma melhor atenção por minha parte ao escrever esse artigo. O assunto começou falando-se do preconceito que o público adulto vê nos livros de fantasia, achando que estes são destinados apenas aos públicos infantil e infanto-juvenil, surgiu daí até um momento cômico, onde relataram que títulos como Discworld e Druuna já foram vistos ao lado de Snoppy e Cebolinha; debateram também sobre autores iniciantes que insistem em antes de começar a escrever um livro, anunciá-los como trilogia e livros que irão revolucionar a fantasia. Como o próprio Villa enfatizou, existem até autores que antes mesmo de começar a escrever o livro, fazem uma sinopse do que seria a idéia e a divulgam, a fim de outras pessoas opinarem. É lógico que é preciso antes de tudo planejamento, algo que dificilmente entra na cabeça de um autor iniciante, que quase sempre entende o livro como um produto a ser vendido ou ainda como meio de futuramente deste se tornar um longa-metragem; estes foram outros dois tópicos fortemente discutidos; inclusive foi discutido em conjunto da platéia, onde André Vianco pôde aproveitar a circunstância para contar sobre sua experiência no campo literário e entrar em outra discussão, que foi sobre como ser publicado. Claudio Villa relatou como foi seu investimento para a publicação de seu livro, o que envolveu desde a venda do seu carro para suprir o preço da impressão até sua coragem de ir de livraria em livraria oferecer seu livro.

O público introduziu na mesa também assuntos como valores dentro dos livros de fantasia, o que fez com que todos mirassem Orlando Paes Filho, pois seus livros carregam consigo uma forte idéia moralista sobre o cristianismo, ilustrações nos livros, se isso tornaria um título adulto muito infantil ou tirasse o fator imaginação do leitor, e recomendações por parte da mesa. Entre um assunto e outro, surgiu uma notícia que deve ter pegado muitos de surpresa: uma iniciativa que criou uma pós-graduação para se torna escritor. Sim! Soa incrivelmente estranho e surreal, mas é a verdade, agora é possível ter um diploma em sua parede para se tornar um escritor. Ao final da mesa-redonda ficamos sabendo dos futuros projetos de Ana Cristina, que inclui uma coletânea com contos de sua autoria, e ainda assistimos em primeira mão um comercial feito para os metrôs do próximo lançamento da Editora Aleph, créditos ao Delfín, no caso a edição comemorativa de 25 anos do livro Neuromancer, de William Gibson, o qual já citei no artigo sobre Cyberpunk.

Vale ressaltar que a mesa-redonda foi recheada de momentos únicos, onde Rogério, ateu, cutucou o anarco-cristão Orlando Paes (“Sou ateu mesmo, acho que Deus é um péssimo personagem!”), e brincou com a idéia do diploma de escritor (“Agora vocês podem chegar à Academia das Letras e tirar todos os velhinhos que não tiverem diploma.”); nem é preciso dizer que ele foi digno de aplausos após altas gargalhadas. Queria também parabenizar a atitude de Orlando Paes em aceitar as brincadeiras, não se alterando.

Saindo do auditório tive o prazer de cumprimentar algumas das figuras que comentei anteriormente. Além dessa ventura, ainda pude encontrar com quatro membros do fanzine Fabulário; a oportunidade foi ótima, pois além de nos conhecermos, voltamos rindo durante a entediante viagem de volta. Recebi também das mãos do autor Fábio Ciccone a fanzine Magias & Barbaridades, o qual li, ri,gostei e já projetei como uma futura aliança.

Para quem não foi, mas gostaria de rever toda a trajetória das diversas discussões que permearam nesse Sábado, logo estará disponível no YouTube os vídeos contendo as três horas do evento. Bom, esse foi apenas o aquecimento para o que virá na Fantasticon! Espero que encontre mais pessoas e que volte com mais assunto para debater por aqui. Até mais pessoal e espero que tenham sido incitados a participar desses eventos.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Sexta-feira 13 com uma pitada de Cthulhu

Sexta-feira 13, quem diria? Essa data, considerada por muitos como dia de azar, quase passou despercebida por mim, tanto é que estava escrevendo outro artigo quando notei no calendário o dia especial que seria hoje. Muitos acreditam que a Sexta-feira 13 tenha inspirado superstição por partes das pessoas porque teria sido o dia em a Ordem dos Templários caiu na ilegalidade ou ainda porque foi o data em que Jesus Cristo fora crucificado! Na numerologia, o número 12 sempre fora considerado um número cabal (doze meses no ano, doze tribos de Israel, doze Apóstolos de Jesus, etc), sendo então o número 13 o inverso dele, o número imperfeito.

Então nada melhor para comemorar esse dia ironicamente infeliz aprofundando-se sobre Howard Phillips Lovecraft, um dos maiores escritores de terror que já existiu. Lovecraft, a partir de seus conhecimentos ocultistas, sua afeição por diversas mitologias e sua imaginação e habilidade para com a escrita, criou uma série de livros de terror e suspense que influenciaram diversos escritores da atualidade, tal como Stephen King. Vasculhando um pouco a Internet, acabei encontrando esse site feito por fãs brasileiros sobre o autor e toda sua obra; incluindo alguns contos que caíram no domínio público e portanto podem ser baixados sem nenhum problema.

O conteúdo sobre H. P. Lovecraft é gigantesco, sendo que existiam coisas que até então eu nem fazia idéia, por isso, em vez de gastar palavras para falar sobre esse fabuloso autor, peço que todos acessem o site. E para não ficar nenhum vazio de minha parte, recomendo o livro O Caso de Charles Dexter Ward, uma das maiores criações do autor!

Até a próxima e até a mesa-redonda amanhã!

quarta-feira, 11 de junho de 2008

O Guia do Mochileiro das Galáxias

Não entre em pânico! Hoje o Falando de Fantasia fará mais uma exceção para contar-lhes um pouco sobre essa obra de ficção científica; hoje vou comentar sobre esse livro que comprei nesse Sábado, mas que terminei em dois dias de tanta ansiedade pelo final. Todos já devem conhecê-lo, mas é sempre bom dar ênfase nessas obras marcantes.

O Guia do Mochileiro das Galáxias é excêntrico. Acho que esse é o adjetivo mais do que adequado para uma obra que mistura um humor ácido, e requentado de piadas nerds, com ficção científica. A criação do comediante britânico Douglas Adams, famoso por escrever esquetes para a série de humor nonsense Monty Python's Flying Circus, começou no ano de 1978, mas não na forma convencional de um livro, mas sim como uma série radiofônica transmitida pela Radio 4. O estrondoso sucesso alcançado por Douglas fez com que ele tivesse a oportunidade de adaptar seus roteiros de rádio para uma série composta de cinco livros. Todos os livros foram publicados aqui no Brasil pela editora Sextante e são facilmente encontrados em qualquer livraria (e o melhor, são encontrados por um preço cabível ao consumidor).

A história conta sobre as desventuras passadas por Arthur Dent, um anti-herói que vê o planeta ser destruído após descobrir que seu amigo, Ford Prefect, é na verdade um alienígena! Ford Prefect, que passara 15 anos exilado no planeta Terra se passando por ator desempregado, fazia uma pesquisa de campo para a nova edição d'O Guia do Mochileiro das Galáxias, uma enciclopédia que possibilitaria qualquer mochileiro ver as maravilhas do Universo por apenas 30 dólares altairenses. Uma trama que no início pode se passar por simplória começa a se tornar improvável a cada página. Aliás, improvável é um adjetivo que se encaixa fácil em várias cenas do livro; desde a nave Coração-de-Ouro e seu motor baseado no Gerador de Improbabilidade Infinita até a sucessão de ações que levam nosso pouco querido Arthur Dent a discutir com ratos e a aturar um robô maníaco-depressivo.

Douglas Adams ainda pôde nos presentear com uma adaptação cinematográfica desse primeiro livro. Infelizmente o autor morreu em 2001, vítima de um ataque cardíaco. O humor sarcástico de Douglas e toda sua imaginação ao criar uma das mais ilustres séries de ficção científica cativou vários fãs espalhados pelo mundo, por isso em sua homenagem foi criado o Dia da Toalha. Comemorado no dia 25 de Maio, todos os fãs da saga de Arthur Dent devem carregar durante o dia inteiro uma toalha, peça fundamental para todos que querem se tornar legítimos mochileiros das galáxias! Infelizmente eu não pude participar esse ano, por minha falta de tempo, mas quem sabe no próximo. Alguns sites como o Jovem Nerd prestaram a gentileza de hospedar as fotos dos fãs brasileiros devidamente equipados. Um artigo completíssimo sobre Douglas Adams pode ser encontrado no Wikipédia (em inglês) e no seu site oficial.

Espero que eu tenha deixado os leigos com curiosidade. Essa é mais uma daquelas obras que você têm de ler antes de morrer. Até mais pessoal e continuem comentando! 42!

terça-feira, 10 de junho de 2008

Cyberpunk

Implantes corporais, drogas, ciberespaço, cirurgias plásticas, anti-heróis, internet, música eletrônica, vírus, nanotecnologia, moda, cultura pop, quadrinhos e neuroquímica são apenas uma parcela dos elementos que compõem e constroem o estilo literário que deu uma certa revolucionada dentro da ficção científica na década de 80, seu conceitos, ao contrário de muitas obras, eram de que a tecnologia não viria para ajudar a vida dos homens, mas apenas para aumentar o vão que separa a burguesia dos marginalizados. Eu, particularmente, descobri o sub-gênero após ter apreciado a animação que lançou Akira para o mundo ocidental e também pude ter maior conotação do termo após ter assistido a trilogia Matrix, o qual foi baseado em uma das obras de cyberpunk mais importantes da época. A palavra cyberpunk, batizada por Gardner Dozois, editor da revista Isaac Asimov's Science Fiction Magazine, agrupa dois termos que estão sempre presentes nas obras do gênero: cyber (proveniente de toda tecnologia cibernética que vai desde o ciberespaço até as drogas constantemente utilizadas) e o punk (o uso desenfreado das ferramentas criadas pelo "sistema" contra ele mesmo).

O gênero cyberpunk começou a ser desenvolvido ainda na metade da década de 80, onde alguns escritores, como Bruce Sterling, publicavam as primeiras histórias do gênero sob pseudônimos na fanzine Cheap Truth. O termo foi empregado para o grupo de escritores Bruce Sterling, Rudi Rucker, Lewis Shiner, John Shirley, Pat Cadigan e William Gibson, cujas características literárias eram bem parecidas. O ambiente adquirido pela ficção cyberpunk não poderia ser mais caótico: a evolução abrupta da tecnologia, como nós mesmos temos assistido dia a dia, não conseguiu acabar com os problemas sociais, saindo então do meio capitalista e se afastando da utopia moderna que outros livros de ficção científica diziam sobre. O futurismo da tecnocultura moderna transformou-se no presenteísmo da cibercultura pós-moderna (André Lemos). A partir desse conceito, as histórias passaram a retratar os jovens que foram marginalizados por esse ambiente onde as megacorporações dominam o mundo, substituindo até mesmo o poder do Estado. Os cyberpunks, já tidos como anti-heróis, são drogados, hackers, rebeldes e desiludidos; aqui o determinismo funciona bem para descrever as motivações que levam esses jovens à adentrar o submundo das drogas e da "tecnologia". O anti-herói cyberpunk é o protagonista de histórias que envolvem desde sua "tecnofilia" até o uso da sua inteligência acima da média mundial para tentar destruir, ou ao menos provocar, o sistema.

Em 1984 foi lançado o livro Neuromancer, romance de William Gibson, um dos mais influentes escritores de cyberpunk. Neuromancer, além de ganhar diversos prêmios de ficção, foi o primeiro livro a usar o termo "ciberespaço" e se consolidou na ficção científica por conter diversos elementos que compunham o cenário cyberpunk. O protagonista da trama é Case, um drogado que vive em megalópole atormentada pelo caos urbano. Ele é coagido a invadir sistemas de computadores em troca de um tratamento para solucionar seus problemas com micro-toxinas que irão matá-lo em pouco tempo. Esse é o grande lance da literatura cyberpunk, retirar as sagas interplanetárias de viagens e conquistas, guerras intergalácticas e invasões alienígenas, para inserir um contexto pesado e problemático dentro de uma sociedade do futuro. A obra de Gibson é facilmente encontrada em qualquer livraria, basta dar uma procurada.

O fim do movimento cyberpunk se deu no final dos anos 80 (ou começo dos anos 90 se considerarmos as últimas obras publicadas do gênero). O maior motivo para isso foi o fato das pessoas não estarem mais se chocando com as histórias, isso se deve ao fato da grande aproximação do mundo imaginário cyberpunk com o nosso. É curioso reparar de certa forma o gênero antecipou os elementos que estariam presentes na cultura atual: drogas, música eletrônica, rock, tecnologia em alta, hackers, tribos, internet mais próxima dos marginalizados, cibercultura, poluição, caos das grandes cidades, crescimento de multinacionais, etc. O cyberpunk foi o gosto azedo de um futuro não muito doce que viria a seguir. Espero que tenham gostado do artigo que fiz para explicar sobre o gênero para alguns colegas e quem sabe não nos vemos neste Sábado na Livraria Cultura? Se algum leitor quiser, pode confirmar a presença pelos comentários.

Até a próxima!

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Mesa-redonda na Livraria Cultura

Caros amigos de taverna, venho aqui comunicar-lhes um acontecimento que me deixou muito satisfeito e com certeza irá alegrar os irmãos paulistanos. No dia 14 de Junho, mais precisamente em um Sábado, vai rolar uma mesa-redonda na Livraria Cultura do shopping Market Place! A mediadora do evento será a Ana Cristina Rodrigues, atual presidente do Clube de Leitores de Ficção Científica, e dentre os participantes estão muitos figurões na cena brasileira de fantasia. São eles: Cláudio Villa, Orlando Paes Filho, Delfín, Sílvio Alexandre, Rogério de Campos e Gianpaolo Celli. E é claro, tudo isso sobre o apoio do CLFC.

A entrada será franca, por isso sem desculpas do tipo "Ah, mamãe não me deixou ir!". Mais detalhes sobre o evento no site da Livraria Cultura. E para não deixar em branco: está para rolar também uma mesa-redonda sobre terror. Até a próxima pessoal!

terça-feira, 3 de junho de 2008

Trolls

Que felicidade escrever um tópico falando sobre uma criatura tão presente na fantasia de certos RPGs, videogames, livros de espada e feitiçaria, entre outros elementos tão "medievais", literalmente falando. Reparei que nesse mês anterior pouco foi discutido sobre criaturas, mas muito em questões de conceito. Para quebrar esse gelo, já que tenho de agradar gregos e troianos, vai aqui algo sobre essa raça tão exótica e repleta de variações!

Os trolls são seres temíveis saídos do folclore escandinavo. Na maioria das vezes ele é representado como uma visão nórdica dos gigantes, porém existem trolls que são representados como criaturas pequenas, não maiores que goblins; essas diferenças por sua vez se devem à disseminação do mito, que por sua vez chegou das terras escandinavas atingindo a Inglaterra e outros locais invadidos por vikings. Dentro da literatura nórdica a varíavel mais frequente é a de um ser enorme, com orelhas e narizes muito grandes e que gosta de viver no subsolo, sendo este o seu refúgio contra o Sol, que pode transformá-lo em pedra com contato. Como em outras lendas nórdicas, o subsolo onde costumavam viver era transformado em um complexo subterrâneo, tendo muitas entradas e cavernas, que iam desde montanhas até bosques. Esses complexos teriam como suporte pilares de ouro; talvez para combinar com os tesouros guardados por estes seres. A palavra "troll" não possui um significado certo, por vezes é traduzido como "sobrenatural perigoso" ou ainda "alguém que se comporta com violência". Essa tradução é claramente uma alusão aos termos trolldrom e trolla, bruxaria e fazer truques de magia respectivamente. A origem da criatura é outra coisa a ser discutida. Muitos estudiosos afirmam que pode haver uma ligação entre os Neandertais e os trolls; sendo estes frutos de um encontro entre Neandertais e homens de Cro-Magnon. É claro que isso não passa de uma teoria, no qual as provas são inexistentes. Outra teoria diz que eles representavam antepassados escandinavos antes da introdução do cristianismo, que acabou por demonizá-los; a verdade é que suas origens foram definidas de acordo com cada cultura.

O país onde o mito tinha maior importância, tanto nas lendas quanto na literatura, era a Noruega. Ao contrário de outros países europeus, cada vez mais modernizados, a Noruega ainda mantém profundos bosques somados às belíssimas paisagens naturais; havendo sempre um respeito e sendo de preservação da natureza. Esse culto foi o motivo no qual o troll sempre existiu e talvez nunca se extinga da cultura norueguesa; assim como o folclore predominante na Amazônia nunca deixará morrer Curupiras e Boitatás por aí. Enorme, pesado e escuro, o troll norueguês não é rápido, mas ainda consegue trazer para si muitos prisioneiros. Designado como "predador da noite", gosta de adotar a forma de um homem selvagem para sair à noite, quando as pessoas estão dormindo. E era durante as noites que todos os trolls dançavam e comemoravam os solstícios de verão e inverno, tudo ao ritmo do henking, uma estranha dança descompasada. Gostavam de capturar crianças recém-nascidas, trocando-as por trowies, criaturinhas de aspecto desprezível! Por esses atos, os trolls sempre foram considerados malévolos e eternos inimigos dos homens, só tendo sua imagem mudada com o passar do tempo.

A terra que serviu de palco para a povoação de anões, duendes, criaturas mágicas e elementais, tem forte recordação também da imagem do troll. Estou falando da Islândia, local de território rochoso, onde facilmente a idéia do troll, habitante das grutas, foi assimilada. Lá a figura do troll era parecida com a da Noruega, porém com um tamanho menor e com uma malícia maior. O passar do tempo e a entrada da Idade Média trouxeram a concepção que temos atualmente da imagem de um troll: gigante, com dimensões imensas, temperamento maligno, ignorantes, fortes, com narizes grandes e braços compridos.

Influenciaram fortemente a cultura "pop", através de vários meios, entre eles o Dungeons & Dragons, O Hobbit, de J. R. R. Tolkien, traduzido como trasgo pela série Harry Potter, servindo de inspiração para letras de folk metal e para a criação de romances e contos de fantasia. Afinal, que não conhece um troll? Lembro até de uma coleção de brinqueado com esse nome... Enfim, espero que tenham gostado! Até a próxima cambada de trolls.