segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

A Mão Esquerda da Escuridão


Como vai pessoal? Espero que bem depois desse Natal farto e recheado de todo o tipo de alimentos calóricos. Presentes? Eu não ganhei nada e vocês? Ontem acabei de terminar outro livro retirado da biblioteca, no caso a obra prima da autora Ursula K. Le Guin. Para os que já estão torcendo o nariz, aviso que se preparem, pois estou com um projeto novo em andamento: trata-se de um blog que focará apenas em criaturas mágicas, mitologia e outros seres fictícios. No momento estou aprontando as configurações e o layout, mas quando tudo estiver pronto, avisarei imediatamente aqui no Falando de Fantasia!

A Mão Esquerda da Escuridão foi um importante marco dentro dos livros de ficção científica, sendo respeitado até mesmo por escritores de outros gêneros; não foi por menos que recebeu os prêmios Hugo em 1970 e Nebula em 1969. O livro foi recentemente lançado pela editora Aleph, onde foi organizado até uma palestra sobre a vida e a obra da autora.

A história se passa dois anos após a chegada de Genly Ai, enviado do planeta Terra em serviço do Conselho Ecumênico, ao planeta Gethen, mais conhecido pelos pesquisadores como planeta Inverno, devido a seu clima glacial. A característica mais importante do planeta, além do clima, é o fato de todos os habitantes serem hermafroditas, não existindo homem ou mulher, o que contribui para a riqueza do cenário e o entendimento da cultura getheniana. A missão de Genly Ai é negociar com os governantes gethenianos a entrada do planeta ao conselho intergaláctico ecumênico, que funciona como uma confederação que organiza outras civilizações humanas distribuídas em mais de 80 planetas. A trama passa a se intensificar quando Genly presencia a constante tensão entre as nações de Karhide, onde reside, e Orgoreyn. A diferença crucial entre os dois locais é o fato de um possuir um regime de monarquia e o outro de uma democracia (que acaba por incluir até um orgão de censura, no livro chamado de Sarf).

Desde o início da história é o primeiro ministro Estraven quem acolhe e se torna amigo de Genly Ai; a relação que mantêm é um tanto fria e acaba por se tornar uma inimizade após um suposto golpe por parte de Estraven, porém o exílio deste, sua fuga para Orgoreyn e sua memorável travessia pelos gelos eternos ao lado de Genly tornam a amizade deles outro ponto genial do livro! Neste momento é que o leitor observa que não há um antagonista, mas sim sociedades com situações adversas (e injustas) aos protagonistas.

Perseguições, traições políticas, exílio, incesto, suicídio, tortura e alienação são alguns dos elementos que contribuem para um clima pesado e conturbado no enredo, apesar de muia coisa ser implícita e as cenas não serem chocantes. O interessante de ser observado é o estudo antropológico, sociológico e psicológico que se dá na ótica do leitor bem informado. Ursula K. Le Guin utiliza a construção do seu universo para estudar certas características sociais: dualismo, manequísmo, patriotismo, relações amorosas, amizade, poder, etc. É terrivelmente engraçado entender certos mecanismos que só existiriam em uma sociedade hermafrodita (como o fato de não existirem guerras ou conflitos diretos).

Para enriquecer a história vivida tanto na ótica de Genly Ai quanto na de Estraven, existem capítulos dedicados ao mito de criação do mundo, lendas, histórias, diferenças do planeta Inverno em relação ao nosso e à religião. Posso afirmar que é um mundo tão bem construído quanto a Terra Média ou o planeta Duna. Uma trama inovadora para os jovens, um metáfora sobre a humanidade para os adultos e uma história inesquecível para ambos, vale a pena dar uma conferida. Até a próxima, caros leitores.

Toda ficção é metáfora. Ficção científica é metáfora.
Ursula K. Le Guin

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Boas Festas


Tivemos um ano tumultuado; um ano que passou rápido demais, teve complicações demais, mas felizmente muitas realizações nas áreas de nosso interesse. Muitos livros nacionais publicados, vários eventos do gênero e o contínuo crescimento da comunidade brasileira de ficção e literatura mostram que o ano de 2008 foi mais bacana do que aparenta! Para o Falando de Fantasia esse foi um ano de amadurecimento e principalmente de paciência por parte dos leitores e apreciadores do blog. Com a agenda apertada, fui obrigado a ficar sem escrever por meses, a acrescentar outro moderador (que acabou desistindo de sua função), a reestruturar totalmente o layout e a divulgar meu trabalho pelos locais mais estranhos da Internet. Felizmente colhi muitos frutos com algum suor: conquistei muitos leitores amáveis e atenciosos, ganhei parcerias maravilhosas (Geradorii, cadê você?), aprendi muitas lições no meio da ficção e principalmente vi a necessidade de uma melhor administração.

Antes de desejar fartura, gostaria de agradecer algumas pessoas que foram especiais para mim neste ano. Primeiramente gostaria de agradecer aos leitores, responsáveis pela vitalidade do Falando de Fantasia! Quantas vezes eu me deparei com vários emails elogiando o blog e pedindo auxílio para um livro, um texto ou até na elobaração de uma aula de mitologia para crianças! Depois gostaria de agradecer aos parceiros que acreditam e apóiam de verdade o Falando de Fantasia, vendo nele um potencial criativo dentro da blogosfera. Não só tive a admiração de outros blogueiros, como também de escritores! É aqui que cito os nomes de Roberlandio A. Pinheiro, Luciano R. S. e o caro Leandro Reis (responsável pela minha foto com um belo exemplar do seu livro Filhos de Galagah, recebi-o com carinho após um sorteio, muito obrigado Leandro!). Também tenho de agradecer o conhecimento passado pelo pessoal da Escritores de Fantasia, foi graças a eles que soube realmente o que é fantasia e o que é ficção científica, muito obrigado pelo aprendizado! Por fim queria agradecer meu grande amigo Willian Sertório, cujas críticas me tornaram um leitor mais sagaz e cujas discussões filosóficas, psicológicas e n-ógicas me fizeram refletir mais, e minha namorada Mariane Gerez Mendes, cujos conselhos sempre me tornam uma pessoa melhor.

Gostaria de aproveitar o momento para deixar claro que minha falta de tempo impede a criação de artigos sobre criaturas e artefatos! O objetivo do blog sempre foi de mostrar tudo que fosse relacionado a fantasia, desde livros e filmes até mitologia e folclore. Caso queiram algum conteúdo em especial, por favor, deixem comentários ou mandem emails que eu farei questão de pesquisar e escrever sobre. Desde o sucesso de uma resenha de um livro, no caso O Guia do Mochileiro das Galáxias, venho sendo guiado a seguir esse rumo, já que quero agradar aos leitores, todavia já havia planejado aproveitar as férias para a criação de artigos mais complexos de mitologia. Não é possível agradar gregos e troianos, mas tentarei chegar o mais próximo disso. Obrigado pela atenção e por me aguentar por aqui. Desejo um Feliz Natal, ótimas festas e um próspero Ano Novo! Aproveitem a época festiva para comer muito, rir com os amigos e vislumbrar novos sonhos, pois só de sonhos vive o homem.

Para os interessados, aqui no Falando de Fantasia já foi escrito um artigo razoavelmente completo sobre o Papai Noel, deixo também dois vídeos super engraçados para descontrair um pouco (recomendações do próprio André Vianco). Abraços e até ano que vem!

Exterminador do Futuro salva Jesus Cristo


Academia para Papai Noel

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

As Fontes do Paraíso


Semana passada, aproveitando meu início de férias em um rápido passeio pela minha querida cidade, descobri que a prefeitura finalmente decidiu instalar uma biblioteca municipal. Pode parecer um absurdo, mas até então não havia uma! Com grande felicidade adentrei o recinto e fui logo tratando de me cadastrar. Por infortúnio nenhum livro estava catalogado, por isso tive de me dar o trabalho de caçar as relíquias. Entre um clássico da literatura brasileira e um livro de Agatha Christie, encontrei Umberto Eco, Arthur C. Clarke, Isaac Asimov, Michael Ende, Marion Zimmer Bradley e até Frank Herbert! Aproveitando o fato de ter adquirido recentemente a versão estendida do filme Duna e o livro O Restaurante no Fim do Universo, segundo volume da série de Douglas Adams, decidi levar o livro As Fontes do Paraíso, clássico do mestre da ficção científica Arthur C. Clarke, conhecido principalmente pelo livro 2001: Uma Odisséia no Espaço.

Clarke sempre foi um amante dos contos de ficção científica e da astronomia, não foi à toa que após sua experiência militar durante a Segunda Guerra Mundial ele tenha se graduado com grandes méritos em Física e Matemática; um grande salto para que pudesse contribuir para a ciência. Sua maior contribuição para o setor das telecomunicações foi o projeto do satélite geoestacionário, realizado com sucesso 25 anos após suas especulações. Mudou-se e viveu até sua morte no Sri Lanka, local onde passou a criar afeição pela fotografia e a exploração submarina; foi lá também que surgiram muitos elementos que impulsionaram a criação do livro As Fontes do Paraíso.

Em meados do século XXII, a Terra se encontra em um momento turbulento na área do tráfego espacial. Além do uso de foguetes estar prejudicando o ambiente, ele não possibilita ainda o acesso da nação ao espaço, sendo este ainda privilégio para poucos. Certo dia, em Taprobana, o embaixador Rajasinghe acaba por receber a ilustre visita do engenheiro Vannevar Morgan, famoso por ter projetado a Ponte de Gibraltar, conectando os continentes da África e da Europa. Morgan, após uma visita pelas belas localidades do pequeno país da Taprobana, como os Jardins das Delícias, resolve apresentar sua proposta ousada, no caso transformar a ilha de Sri Kanda (sic) no centro do sistema solar! Seu raciocínio é simples: seria construído um satélite geoestacionário (um satélite que completa uma volta diária sobre a superfície da Terra com a mesma velocidade da mesma, tendo assim uma ilusão de imobilidade) e dele seria lançado um cabo até o solo terrestre, esse cabo seria responsável então por carregar um sistema parecido com um elevador! Qualquer passageiro poderia ir até o espaço por apenas alguns trocados em eletricidade, já que a maior parte dela consegue ser reaproveitada. Apesar de estranha, a idéia no qual se inspirou Clarke já havia sido publicada em uma nota da revista Science de 1966!

Convencer Rajasinghe de seus planos não era o suficiente, Morgan ainda teria de enfrentar muitos outros problemas. Além do impacto ambiental ao local e do fato de Taprobana ser uma relíquia histórica, o local ideal para a instalação do elevador espacial coincidia com a localização da Montanha Sagrada do Sri Kanda, protegida pelos monges seculares que ali habitavam. Outros problemas ainda surgem no decorrer trama: a descrença dos empregadores, críticas pesadas por parte da mídia e de famosos estudiosos, como o Dr. Bickerstaff e o Dr. Choam Goldberg, e principalmente pela falta de investidores, já que o custo total do projeto é caríssimo. Com a amizade de Rajasinghe e da corajosa jornalista Maxine Duval, Morgan enfrenta seus oponentes e passa a abrir caminho para seu sonho. Com uma narrativa que flutua em torno da construção da torre espacial, alguns personagens e situações diferentes são apresentadas capítulo a capítulo. No livro passamos desde o Rei Kalidasa e seu sonho em construir uma torre alta o suficiente para chegar ao Céu, até a estranha aparição do Sideronauta, fato que culminou na descoberta da vida extraterrestre.

Mesmo nos momentos finais do livro vemos a tecnologia como algo que pode ser utilizado para o bem da humanidade. Ao contrário de outros livros pessimistas, Clarke nos passa essa brilhante visão ilustrando a possibilidade de realizarmos o que desejamos profundamente com auxílio do avanço tecnológico. Para quem deseja ler uma ficção científica pura, técnica e que fale sobre os homens a partir das suas máquinas e criações, recomendo que leiam essa obra tão sensível.

Queria aproveitar o momento para agradecer o comentário da leitora Mariana no artigo sobre o livro Coraline. Sério, sinto-me muito feliz por saber que alguém partiu para cima das recomendações que deixei por aqui. Também fiquei muito perdido sobre o que ler, porém acabei me encaminhando para esse gênero que a cada livro me surpreende mais e mais! Caso você queira recomendar alguma coisa, estou sempre aqui para ler sugestões. Até a próxima pessoal!

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Battlestar Galactica: The Face of The Enemy


A franquia Battlestar Galactica já é uma velha conhecida dos fãs de ficção científica. Eleita uma das mais influentes séries de ficção científica dos últimos 25 anos, Battlestar Galactica conquistou uma legião de fãs em 1978; isso graças a suas batalhas grandiosas, seus cenários elaborados e seu enredo inovador para a época. Em 2003 os produtores, a pedido dos fãs, recriaram alguns episódios da antiga história, mas aproveitando o potencial da trama decidiram por começar algo totalmente novo em 2004. Atualmente Battlestar Galactica está sendo exibida pelo canal TNT.

No dia 12 de Dezembro ocorreu a estréia da microssérie Battlestar Galactica: The Face of The Enemy na Internet. Os webisódios poderão ser assistidos pelo site oficial da série, porém já aviso que eles estão bloqueados para alguns países, como nosso querido Brasil! Felizmente algum fã está disponibilizando os episódios pelo YouTube. A trama envolve o navegador Felix Gaeta e a andróide número 8 em busca dos assassinos dos seus companheiros da tripulação. Cada webisódio está sendo lançado em um intervalo de dois ou três dias, por isso fiquem ligados.

sábado, 13 de dezembro de 2008

Princesa Mononoke


Com uma produção que custou US$20 milhões, sendo uma das mais caras da história do cinema, um faturamento de US$150 milhões, uma história que comoveu o Japão e uma lenda das animações por trás de toda essa grandiosidade, Princesa Mononoke é considerada a obra suprema do diretor e ilustrador Hayao Miyazaki, conhecido pela produção e direção de uma vasta coleção de filmes japoneses, pela criação do Estúdio Ghibli e principalmente pela originalidade de seus trabalhos. Sua fama ainda concentra-se em seu país natal, mas aos poucos Miyazaki vem conquistando o público ocidental; provas disso são as premiações que o longa-metragem A Viagem Chihiro recebeu graças a distribuição realizada pela Disney. Estreando nos cinemas em 1997, Princesa Mononoke foi mais um filme em que Hayao utilizou a idéia da preservação do meio ambiente como fundo de uma história épica. Devido a sua bilheteria extraordinária, a tradução do filme para o inglês foi feita pelo escritor e roteirista Neil Gaiman, sendo chamados para a dublagem o cineasta Billy Bob Thornton e a atriz Claire Danes. Há uma lenda de que o filme deveria ter sido exibido nos cinemas brasileiros, porém sua exibição foi cancelada de última hora!

O filme chamou bastante a atenção por possivelmente ser uma continuação ou possuir algum laço com a animação Nausicaä do Vale do Vento, de 1984. Miyazaki já havia afirmado que o final de Nausicaä não o agradou muito, por isso continuou escrevendo e desenhando o mangá a fim de chegar a um final mais desejado. Seria possível então que Princesa Mononoke fosse um futuro do mundo de Nausicaä, um futuro possivelmente resolvido! Como já tinha dito, ambos também abordam de modo indireto as questões ecológicas, desenvolvendo na narrativa uma ligação espiritual entre o homem e a natureza.

A história começa no Japão, mais especificamente na Era Muromachi. Uma vila afastada da civilização repentinamente se torna alvo da investida furiosa de um deus-javali possuído por um demônio (tatari gami ou "deus da maldição") e é papel do príncipe Ashitaka deter a criatura e impedir que o vilarejo de Emishi seja destruído. Montado em sua corça, o príncipe trava uma batalha feroz com o monstro e acaba por derrotá-lo, mas não antes de ser ferido. A cicatriz deixada pelo deus da floresta acabaria por matar o jovem em pouco tempo, o único meio de se livrar dessa maldição seria buscar a origem do estranho objeto metalizado encontrado nos restos do javali morto. Novos horizontes vão surgindo à medida que Ashitaka se aprofunda em sua busca, até que por fim chega em uma comunidade que vive da extração e fundição de metais. A líder, Lady Eboshi, é famosa por contratar leprosos, ex-prostitutas e outros desagregados sociais, algo que trouxe o respeito mútuo de todos seus subordinados, porém também trouxe a inimizade dos samurais das proximidades e principalmente dos deuses que habitam a floresta que envolve a cidadela. A tão falada princesa Mononoke do título é mais uma que compartilha o ódio pela Lady Eboshi. Criada pelos deuses da floresta desde criança, Mononoke acredita não ser uma humana, mas sim uma deusa.

A atitude e a coragem da princesa acabam cativando Ashitaka, que vê o embate entre os deuses e os humanos uma perda de tempo, sendo que ambos poderiam coexistir em completa paz. Não existe um lado certo ou errado na história: os homens buscam sua sobrevivência explorando os recursos materiais provenientes da floresta, enquanto os deuses querem protegê-la para viverem sem serem incomodados. A trama se torna mais intensa quando há a batalha frenética e suicida entre os javalis e os humanos, completada pela caça ao deus da vida e da morte Shishigami.

Princesa Mononoke é um filme que do início ao fim mostra o motivo do seu bom recebimento pelo público japonês e ocidental. A história envolvente e com momentos trágicos acaba concluindo que só um equilíbrio entre oposições pode resultar em algo lucrativo ao mundo. Espero que tenham gostado, até a próxima!

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Coraline


Quando encontrei esse livro como a única opção na biblioteca da minha antiga escola enquanto procurava por Sandman e Coisas Frágeis, não imaginava que a história de uma garotinha e um gato fosse me deixar tão apaixonado e pensativo. Admito que num primeiro momento eu esperei por uma trama infantil, pouco elaborada, visando mesmo o público mais jovem, mas me deparei com um enredo perturbador e que de certa forma me lembrou os pesadelos da minha infância. Com algumas pitadas de humor negro, terror e muitas referências à obra mais famosa de Lewis Carroll, Neil Gaiman criou essa obra deliciosa de ser lida tanto por crianças quanto por adultos e que hoje já possui até uma adaptação que estará em breve nos cinemas! É interessante também elogiar as ilustrações do livro feitas por nada mais e nada menos que Dave McKean, que é um dos melhores ilustradores da atualidade na minha opinião.

Coraline (sim, nada de se enganar com "Caroline") acaba de se mudar com seus pais para um apartamento situado em um antigo prédio. Além dos excêntricos vizinhos, Coraline se depara com estranhos fenômenos dentro de seu novo lar! Durante um dia chuvoso a garota descobre uma porta que algumas vezes dá para uma parede de tijolos e outras para um apartamento idêntico ao seu, mas que pertence ao outro mundo. Coraline, guiada pela sua curiosidade, decide então explorar o outro lado da porta e ver como é esse mundo alternativo. Acaba se surpreendendo ao encontrar seus brinquedos com vida própria, batatas fritas e refrigerante sempre a disposição, vizinhos que conseguem falar seu nome de maneira correta e toda a liberdade que desejara até então. O único incômodo são seus outros pais, que além de darem atenção demasiadamente, possuem botões no lugar dos olhos! Infelizmente o pior não é isso, mas sim o fato da sua outra mãe desejar costurar olhos de botões em Coraline para que ela possa fazer parte do outro mundo.

A tensão só tende a aumentar quando os outros pais da garota aprisionam seus pais verdadeiros. Felizmente todo esse clima de terror e medo não é páreo para a inteligência e ousadia de Coraline, que por fim se vê obrigada a enfrentar a solidão e a indecisão, sentimentos tão freqüentes em muitos momentos de nossas vidas. Um dos pontos mais interessantes do livro é a rica galeria de personagens. Até mesmo os que aparecem uma vez ou outra possuem uma personalidade excêntrica, divertida e bem elaborada. Nos 13 capítulos que compõem a obra, Coraline conhece as idosas e ex-atrizes de teatro senhoras Spink e Forcible, que não param de falar sobre filmes antigos. Vivendo logo acima está o senhor Bobo, um velho de bigodes que insiste em treinar um circo formado por ratos, mesmo eles estando fora de ritmo. Também há o espelho onde outras crianças como Coraline foram aprisionadas pela outra mãe, todavia o personagem mais intrigante da história é um felino que aparece e desaparece durante todo o decorrer da trama (notaram alguma semelhança com outro gato?). Sempre com as unhas (e língua) afiadas, o Gato Preto, que prefere viver sem um nome, pouco a pouco vai se tornando amigo da garota e acaba por ser o elemento crucial no momento em que Coraline enfrenta sua outra mãe, a verdadeira vilã da história!

Com ótimos personagens, um cenário que brinda dos nossos pesadelos e sonhos, uma trama que causa calafrios em qualquer grandalhão e inteligentes reflexões sobre nossa vida e nossas ambições, Neil Gaiman nos proporciona mais uma vez um livro tão sagaz que merece ser lido várias vezes! Será que nós, adultos, seríamos capazes de fazer as escolhas certas? Se você tem dúvida em responder essa questão, é melhor então que não abra a porta que dá para a parede de tijolos. Logo abaixo o trailer oficial da adaptação de Coraline. Espero que tenham gostado e que procurem ler o livro antes da chegada filme, até a próxima!

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Galeria de Fantasy Art

Esse é para quem aprecia a fantasia além da literatura propriamente dita. O Aumania é um site que contém uma gigantesca galeria de pinturas e desenhos baseados na cultura em geral da ficção fantástica. Você pode pesquisar as imagens através dos autores e assim conhecer um pouco sobre outras mentes criativas que fizeram sucesso dentro do campo da ficção! De J. R. R. Tolkien até Frank Frazetta, as imagens são um prato cheio para quem necessita "daquela inspiração" para "aquele cenário" ou ainda "aquela cena".

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

LHC

Acredito veementemente que o tema de hoje salta do imaginário para se tornar realidade. Esse artigo pode parecer fugir do tema do Falando de Fantasia, mas acho que essa situação excêntrica, que sem dúvidas se trata de mais um passo do homem em direção ao conhecimento sobre a origem da vida, merece todo o respeito e cordialidade dos leitores.

Hoje, dia 10 de Setembro, passou a funcionar o LHC, mais conhecido como Grande Colisor de Hádrons, o maior acelerador de partículas do mundo! Ele é um anel subterrâneo com perímetro de aproximadamente 27 quilômetros, localizado na CERN, mais especificamente entre a fronteira da França e da Suíça.

O LHC, através de poderosos imãs, consegue fazer com que partículas de prótons corram em direções opostas pelo gigantesco anel em uma velocidade que representa 99,99% da velocidade da luz. Quando essas partículas se chocam com intensa energia em quatro pontos distintos, é produzido um sem-número de partículas elementares. Com esse experimento espera-se observar o bóson de Higgs, a partícula chave que explicaria a origem da massa de outras partículas elementares, verificar se há mais dimensões que as três já conhecidas e ainda estudar a origem dos cosmos. Existem seis detectores localizados em diferentes partes da circunferência, sendo os quatro de maior porte mais importantes.

Os detectores Atlas e CMS investigarão a gama de partículas e subpartículas geradas pela colisão, o Alice tentará criar as condições do Universo após criação pelo Big Bang e por fim o LHCb tentará explicar o motivo do Universo ser constituído de matéria e não anti-matéria. Cada detector tem o tamanho em média de um prédio de cinco andares, nada mal não é?

Extremistas contestam a utilização do LHC, pois alegam que o equipamento poderia criar um buraco negro. Felizmente cientistas renomados, tais como Stephen Hawking, afirmaram que tal teoria seria impossível mediante as condições já estudadas e estabelecidas na experiência. Admito que a mídia nunca é totalmente confiável, todavia sair gritando que é o "fim do mundo" pelas ruas não adiantaria de muita coisa, o fato é que temos apenas de aguardar quais serão as evoluções que teremos após os resultados do LHC, que estão previstos para o ano de 2009. Será que viveremos uma nova revolução industrial ou passaremos por um declínio, caso o acelerador represente danos à humanidade? Como se já não bastasse o 2012!

Espero que tenham gostado do breve artigo explicando o básico sobre o LHC. Até a próxima e torçam para que a Terra não se transforme em "matéria estranha", caso contrário vou ter de pagar uma bela multa na biblioteca...

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Invisibilidades II

Olá caros leitores, espero que a essa altura já tenham lido Black Hole! Hoje vir dar uma grande notícia, aliás, maravilhosa para quem não pode comparecer a última edição da Fantasticon. Esse ano será realizada a segunda edição do Invisibilidades, desta vez sobre a curadoria do jornalista e escritor Fábio Fernandes. O objetivo do evento é mais do que lógico: presentear os amantes da ficção científica (e por que não os leitores de ficção fantástica também, não é?) com muita ficção científica e debates do gênero. É claro, será também uma boa ocasião para mostrar para "aquele amigo" ou "aquela prima" ou ainda "aquele tio" a importância do gênero em escala nacional, quebrando certos preconceitos de que a ficção científica brasileira não existe. Segue abaixo a programação retirada do site Invisibilidades.

Sábado (20/09)

17h30 Por uma Ficção Científica Pós-Moderna

Para mapear a produção de ficção científica brasileira atual, escritores que estão começando a despontar, como Antônio Xerxenesky e Octavio Aragão, dialogam com autores experientes, como Nelson de Oliveira e Max Mallman.

Participantes:

Antônio Xerxenesky é editor e autor do weird western Areia nos Dentes .

Max Mallmann é escritor e roteirista de TV e autor de Síndrome de Quimera e Zigurate, este último concorreu ao Prêmio Jabuti, foi publicado na França e está sendo adaptado para o cinema no Brasil.

Nelson de Oliveira é escritor, ensaísta, diretor de arte e autor de Os Saltitantes Seres da Lua e Subsolo Infinito. Em 1995, seu livro Naquela Época Tínhamos um Gato recebeu o Prêmio Casa de las Americas.

Octavio Aragão é designer gráfico, escritor, autor do romance A Mão que Cria e criador do blog Intempol.

Mediação: Gerson Lodi-Ribeiro é escritor e autor de O Vampiro de Nova Holanda e Outros Brasis. Atualmente trabalha com o game de ficção científica Taikodom.

19h30 Publicar uma Nova Ficção Fantástica no Brasil – Existe Espaço?

Debate com editores de livros e de revistas digitais de várias regiões do país sobre a viabilidade editorial e comercial de se publicar literatura fantástica de autores nacionais.

Convidados:

Ana Cristina Rodrigues é historiadora, professora e escritora. Preside o Clube de Leitores de Ficção Científica e coordena a Fábrica dos Sonhos, um coletivo de autores de gênero. Atua como editora virtual, com o zine Somnium, o blog Letra e Vídeo e a editora Fábrica dos Sonhos.

Ednei Procópio é diretor da Giz Editorial, que publica obras de literatura fantástica, como Trevas , Renascimento, Getsêmani e Amor Vampiro. A coleção Universo Fantástico e o site homônimo, também são frutos de seu trabalho nessa editora paulista.

Jacques Barcia é jornalista, escritor, editor da revista digital Kalíopes – voltada para a fantasia pós-moderna – e co-editor da revista digital Terra Incógnita, com foco em ficção científica. É co-autor do blog Post-Weird Thoughts, escrito em inglês.

Richard Diegues é escritor, editor, autor dos livros Sob a Luz do Abajur e Magia – Tomo I, e co-autor da série de livros Necrópole, além de organizador do livro Visões de São Paulo – Ensaios Urbanos e editor da Tarja Editorial.

Samir Machado de Machado é editor da Não Editora, organizador da coletânea de contos fantásticos inéditos Ficção de Polpa e responsável por livros como Areia nos Dentes, de Antônio Xerxenesky.

Mediação: Sílvio Alexandre é organizador do Fantasticon – Simpósio de Literatura Fantástica e membro da Comissão Organizadora do Troféu HQMix, o principal prêmio dos quadrinhos no Brasil. Criou e dirigiu várias coleções de literatura fantástica.

Domingo (21/09)

16h Por uma Crítica de Ficção Científica no Brasil: Primeiros Passos

Mesa sobre a produção acadêmica relacionada à ficção científica no Brasil, em particular a partir de 2000. Neste novo século, despontaram os primeiros artigos e livros sobre a relação entre ficção científica e cibercultura.

Convidados:

Adriana Amaral é professora, doutora pela PUC/RS e autora de Visões Perigosas: Uma Arquegenealogia do Cyberpunk.

Alfredo Suppia é professor, doutor pela Unicamp e pesquisador do cinema brasileiro de ficção científica.

Rodolfo Londero é mestre pela Universidade Federal de Mato Grosso, pesquisador da área de cibercultura e co-editor de Volta ao Mundo da Ficção Científica.

Mediação: Rodolfo S. Filho é jornalista, tradutor, escritor e autor de um dos blogs mais antigos e renomados da web brasileira, o Leituras do Dia. Colaborou para a revista Superinteressante, entre outras.

18h Ficção Científica Brasileira: Passado e Presente do Gênero no Brasil

Debate com os três dos maiores nomes da literatura de ficção científica do Brasil que se destacaram entre os anos 1980 e 1990. Esta mesa busca promover a troca de idéias sobre suas incursões no mundo da literatura, da música, do ciberpunk, além de abordar projetos futuros.

Convidados:

Bráulio Tavares é escritor, compositor e autor de A Espinha Dorsal da Memória e O que é Ficção Científica.

Fausto Fawcett é cantor, compositor, escritor e autor de Santa Clara Poltergeist e Favelost.

Guilherme Kujawski é jornalista, escritor e autor de Piritas Siderais e Borba na Infolândia , este em parceria com Sérgio Kulpas.

Mediador: Sérgio Kulpas é jornalista e escritor.

20h30 Pecha Kucha Night São Paulo

Domingo (21/09)

10h às 15h30 oficina: A Escrita em Ficção Científica Brasileira

A oficina será ministrada por Roberto de Sousa Causo , organizador das antologias Histórias de Ficção Científica e Os Melhores Contos Brasileiros de Ficção Científica , além de coordenador editorial do selo Pulsar, da Editora Devir.

***

Nem preciso dizer que possivelmente estarei lá! Se precisarem de mais informação sobre o evento, que será realizado na Av. Paulista, na altura do Paraíso, no Itaú Cultural, acessem o próprio site do evento Invisibilidades. Vale lembrar também que a entrada é FRANCA, por isso não percam a oportunidade. Até a próxima!

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Black Hole

Como tem andado meus caros? Espero que bem até então, espero que desculpe a minha demora em relação aos artigos; já recebi vários emails de leitores pedindo maior demanda de textos, mas a minha rotina anda meio apertada e não é sempre que eu visualizo algum assunto para abordar aqui. Por isso mesmo deixo aqui meu pedido de que você, caso tenha alguma idéia ou dúvida, colabore e dê alguma sugestão! O artigo de hoje será novamente sobre quadrinhos, por isso peço perdão aos que apreciam mais os textos sobre criaturas e mitologia. A graphic novel em questão me veio parar nas mãos por acaso, pois um colega da minha faculdade me trouxe de surpresa e até então desconhecia o título e até mesmo o autor! Um pecado para um trabalho tão envolvente.

Black Hole é o mais importante trabalho do quadrinista Charles Burns, famoso por seus desenhos carregados de nanquim e sua participação na revista Raw e com a série El Borbah na revista Heavy Metal. O trabalhado empenhado em Black Hole demorou singelos 10 anos para ser concluído, o que mostra a dedicação e o compromisso do autor com sua obra. Felizmente nesse meio tempo ele pode conquistar vários prêmios, tais quais o Eisner Award de Melhor Álbum, em 2006, e o Harvey Awards. Através de pesquisas cheguei a notícia de que uma adaptação cinematográfica do quadrinho foi anunciada; o roteiro já foi totalmente adaptado por nada mais e nada menos que os gigantes Neil Gaiman e Roger Avary, o que com certeza impulsionará tanto o nome "Black Hole" quanto o do próprio Charles Burns para fora do meio underground; o que eu acho muito bom, já que eu mesmo gostaria de ter tido contato com esse material mais cedo e não repentinamente.

Black Hole, com certas características autobiográficas de Burns, nos conta a história de uma Seattle alternativa dos anos 70, onde um maléfico vírus tem afetado diversos adolescentes, impondo-lhes deformações corporais. Cada infectado possui uma reação diferente, isso varia desde mãos com membranas até transformações medonhas, onde jovens perdem muitas características humanas como a própria fala. Excluídos da sociedade, esses jovens deformados criam um acampamento próximo da cidade; único meio de se isolar do mundo para conseguir um pouco de paz. Seguindo um ritmo melancólico, depressivo e até certo ponto perturbador, Black Hole nos mostra o cotidiano de alguns jovens que transitam entre drogas, sexo e mutações. Podemos tomar como protagonistas os personagens Chris e Keith, dois adolescentes com histórias que, apesar de certas ligações (Keith é apaixonado por Chris, mas ela é apaixonada por Rob, garoto com o qual contraiu o vírus) se passam em diferentes locais e momentos; a narrativa nos leva até o momento dramática em que ambos são infectados.

Com traços diferentes e bem característicos, que bebe muito da mistura do vintage, do LSD e do horror, Charles Burns nos conta toda essa trama simbólica sobre o terror da adolescência e as experiências que nela acumulamos. Talvez faça mais sentido para um adulto no auge de seus 40 anos, todavia é ainda uma tremenda experiência visual e artística; facilmente encaixado dentro da literatura pop. Só lendo para compreender a estranha sensação de ter alguns pontos comuns com os personagens, de já ter passado por aquela situação e já ter tido "aquele" terror psicológico, aquela agonia.

Aproveitem também que os preços dos dois volumes que saíram pela Conrad estão bem amistosos! Caso você esteja duro, pode conferir o primeiro volume no Palhastro; em breve procuro a segunda edição. Espero que tenham gostado, até a próxima!

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Golens

Conversando com meu amigo Felms, fui apresentado a um jogo que marcou o Playstation 2, muitos aqui até devem conhecê-lo, chamado Shadow of Colossus. Com gráficos bem planejados, cenários elaborados e criaturas gigantescas, o jogo ganhou grande fama e ficou conhecido por certo diferencial com demais jogos de ação e de RPG. O ponto da conversa se prolongou para o que seriam exatamente os golens presentes no jogo; seriam eles meras criaturas de barro? Simples inimigos de nível mediano em partidas de RPG? Acredito que há uma história muito mais profunda do que esse monstro lendário aparenta.

A crença do golem engloba um papel muito importante dentro da mitologia e da filosofia, no caso esse papel se trata da busca do homem pela criação de um ser semelhante. É claro, não vale citar a reprodução natural como parte dessa busca, o interessante é foca na criação "artificial"! Essa temática da fabricação de um ser está espalhada em diversas culturas e influenciou diversos elementos que compõem a nossa cultura: a idéia do golem está presente desde o mito de Prometeu até o livro Frankenstein. As tradições místicas do judaísmo, particularmente a cabala, diziam que Deus havia criado o primeiro homem através de uma sucessão de ritos, não em um estalar de dedos, caso esse ritos fossem retomados e repetidos pelos estudiosos seria possível a criação de uma nova criatura. Há uma linha de raciocínio presente no Talmud que diz que até mesmo Adão havia sido um golem, já que ele também veio do pó; lembrando que os golens são provenientes da lama, existindo aí então uma correlação de elementos da alquimia.

No folclore judaico a palavra golem possui o significado literal de "casulo". Já no hebraico moderno a palavra significa "estúpido" ou ainda "imbecil". Curiosa essa última etimologia, pois a figura do golem sempre foi associada a submissão. O golem era criado a fim de servir seu mestre, seguindo todas as ordens a risca, nem sequer medindo as conseqüências de seus atos. O substantivo também pode ter sido derivado da palavra gelem que significa "matéria prima".

A história mais famosa que envolve a fabricação de um golem data do século XVI, mais exatamente na cidade de Praga. O rabino Judah Loew, orientado pelos ritos compreendidos no Livro da Criação do escritor Eleazar de Worms, começou a testar várias combinações de fórmulas com a finalidade de gerar vida. Certo tempo depois, após muitas falhas, o inesperado ocorre: do pó armazenado no armário do rabino uma figura humana começa a tomar moldes. Na cabeça do golem foi escrita a palavra Emet (verdade), assim a criatura pode tomar vida e se levantar.

Judah Loew tinha como objetivo criar um protetor para o gueto que constantemente sofria ataques anti-semitas. Durante o dia a criatura ficava escondida no sótão da casa do rabino, porém ela foi crescendo com o tempo, chegou então ao ponto de quebrar o telhado e se tornar visível a multidão. Tornando-se violento, o golem começou a espalhar o medo no gueto. Não restou alternativa a não ser lançar uma contra-magia e cessar com o caos; Judah apagou uma das letras da testa do golem e este voltou ao pó de onde viera.

Tempos mais tarde a escritora Mary Shelley se aproveitou da mesma história, apenas fazendo certas modificações que trouxeram o golem da cabala para a modernidade, sendo agora um ser movido por equipamentos provenientes da revolução industrial. Frankenstein foi um marco na literatura e até hoje é lembrado por sua consistência e sua metáfora sobre até que ponto o homem pode dominar suas criações.

Partindo agora para o lado RPGístico do artigo, vale sintetizar que o golem é uma criatura fabricada a partir de qualquer material que, através de ritos, passa a ganhar vida; esses materiais podem ser carne, ferro, pedra, areia, diamante ou até madeira. Esses rituais de criação tanto podem ser religiosos, quanto tecnológicos, variando de alquimia a cabala, como já foi citado. Palavras e símbolos impressos no corpo desses monstros representam a magia ali selada, que só pode ser quebrada de acordo com as regras impostas na criação.

Bom, por enquanto é só. Espero que tenham gostado do artigo e que continuem visitando sempre o blog, até a próxima!

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Sexto filme da série Harry Potter é adiado

As lágrimas dos fãs já estão sendo derramadas, triste não? A Warner Bros anunciou ontem, dia 14 de Agosto, que a continuação cinematográfica da série Harry Potter terá sua estréia agendada apenas para o ano que vem! Essa notícia foi no mínimo frustrante para os adoradores da obra que já preparavam suas fantasias para assistir ao sexto filme. O lançamento agora foi marcado para o dia 17 de Julho de 2009; haja paciência.

O curioso dessa notícia foi o alarde feito pelos fãs; tudo bem, pois se adiassem Watchmen, por exemplo, eu também tocaria o terror em todos os cantos! J. Lestrange, ilustrador do Covil, que posso afirmar com toda certeza que é o maior desenhista brasileiro da temática, aproveitou a oportunidade e soltou uma bomba através dos seus meios: hospedou quatro imagens inéditas do filme, e até então sigilosas, protegidas pela lei, e acabou por criar certa polêmica.

O prestigiado MuggleNet, considerado em escala internacional o maior site especialista em Harry Potter, chegou a criar uma matéria onde mostrava as quatro imagens inéditas com a assinatura do blog do caríssimo J. Lestrange. Foi um belo golpe de publicidade e uma bela maneira quase minimalista de se vingar dos estúdios Warner Bros. Preciso ressaltar também que a mudança da data foi uma estratégia para que a continuação da série possa ser lançada no verão americano e assim tentar faturar mais que os filmes anteriores. Chato, não?

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Watchmen

Posso dizer com facilidade que essa foi a melhor história em quadrinhos que eu já pude ler, até tenho sérias dúvidas se um dia terei em mãos uma graphic novel tão moralmente avassaladora, tão crítica com super-heróis e com a atual sociedade bélica. Acredito que o título não seja desconhecido entre os leitores do Falando de Fantasia, mesmo porque a história está sendo adaptada para o cinema, será lançada no final do primeiro semestre do ano que vem, e já conquistou diversos prêmios, que vão desde os de quadrinhos até os de obras literárias. Watchmen foi considerado um marco nos quadrinhos, já que seu enredo maduro, sua linguagem diferenciada e sua temática social conquistaram o interesse do público adulto, até então afastado do formato dos quadrinhos; a este feito podemos somar a participação de Art Spiegelman, em Maus, e Frank Miller, em O Cavaleiro das Trevas.

Alan Moore, buscando transcender as possibilidades dos quadrinhos, criou uma trama que envolvia histórias obscuras por trás dos super-heróis; esses arquétipos de perfeitos cidadãos também possuiriam problemas éticos e psicológicos, traumas, preconceitos, defeitos, entre outros pontos não observados nas histórias em quadrinhos até o lançamento de Watchmen. Moore ainda usou como pano de fundo uma história alternativa onde os Estados Unidos teriam vencido a Guerra do Vietnã e estariam prestes a entrar em um conflito nuclear com a União Soviética. Um pouco caótico, não? Ainda nem comecei... Após um pequeno incidente em um laboratório nuclear, o cientista Jonathan Osterman é transformado no Dr. Manhattan, uma criatura com poderes que vão desde a manipulação total da matéria até o controle do espaço temporal. Esse acidente fez com que o governo utilizasse, estrategicamente, Osterman como uma peça chave a fim de evitar conflitos e evoluir drasticamente sua tecnologia.

O primeiro obstáculo para Alan Moore e o ilustrador Dave Gibbons, muito importante no desenvolvimento da graphic novel, foi a escolha dos personagens a serem usados. A princípio seriam usados os personagens da MJL Comics (nessa ocasião em negociações com a DC Comics), optaram, porém, por usar os personagens recém comprados da Charlton Comics, todavia essa idéia foi descartada devido ao cuidadoso trabalho que a DC Comics vinha desenvolvendo para inserir esses heróis em seu universo. Dick Giordano, que havia trabalhado na Charlton Comics, sugeriu que Moore e Gibbons começassem a criação do zero, utilizando apenas algumas características de outros super-heróis. Essa reconstrução foi bem interessante para a época, já que tratou de modo subjetivo alguns estereótipos de heróis em evidência; desse mesmo modo podemos explicar a mudança dos trajes que o diretor Zack Snyder inseriu para criticar os “novos” fantasiados que estão invadindo o cinema. Com a resposta para esse problema, faltava então desenvolver a temática em volta da morte de um dos personagens. Os escritos originais preencheriam apenas seis volumes, entretanto as várias tramas menores, que englobam o passado e o presente dos vigilantes, conseguiram fazer com que Watchmen viesse a fechar com doze volumes.

A graphic novel começa quando Edward Blake, conhecido como Comediante, é encontrado misteriosamente morto. Todos encaram o fato como suicídio ou algo insignificante demais para ser melhor averiguado, já que o passado de Blake não era um dos melhores e ele poderia ter diversos inimigos. No entanto há Rorschach, o único vigilante na ativa e o único com capacidade para buscar vestígios do assassino; seja por tortura, invasões ou tendo poucas horas de sono. Sem saber qual será o desfecho do caso, o último vigilante (ou talvez o primeiro dos últimos) se depara com uma conspiração que envolve o desaparecimento de todos os super-heróis. Ao longo da história muitos personagens ganham importância, tais como Coruja, Júpiter, Ozymandias, Moloch e até o dono da banca de jornal!

É necessário ressaltar alguns pontos curiosos dentro da história, como o fato dos Estados Unidos proibirem a existência de heróis fantasiados. Estes foram banidos pela Lei Keene por agirem “acima da lei”, fazendo com que policiais entrassem em greve e cidadãos fossem às ruas para manifestar contra as ações dos vigilantes.

Tudo que mencionei não compreende nem um vigésimo da profundidade de Watchmen. Com um começo instigante e um final de cair o queixo, muitas questões acabam sendo levantadas: afinal, o que é melhor para o homem? Qual a solução para o caos urbano que ruma à antropofagia? Qual o sentido de viver sem se preocupar com o próximo? Espero que leiam, todos os quadrinhos estão disponíveis no fórum F.A.R.R.A. (necessário se registrar). Fiquem agora com o trailer oficial do filme, até mais!

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Zumbis

O pesadelo de suas infâncias está de volta: criaturas macabras e assustadoras que aterrorizaram até participando de clássicas produções como A Volta dos Mortos Vivos! Tudo bem, é patético admitir que você tremia a simples menção da palavra "cérebro"; felizmente tivemos a oportunidade de descarregar certa raiva em jogos como Resident Evil.

Zumbis são criaturas que, uma vez dadas como mortas, retornariam a vida por meios desconhecidos; meios que podem ir desde vírus desenvolvidos em laboratórios até feitiços e rituais de necromancia. Muitas hipóteses definem a origem da palavra "zumbi", ela pode ser derivada de jumbie, palavra caribenha equivalente a "fantasma", e nzambi, conguiano equivalente a "espírito de uma pessoa morta". Os zumbis são muito comuns no folclore e na cultura do Haiti, sendo talvez um local onde até hoje predomine a crença na existência desses seres; alguns pesquisadores contam histórias sobre organismos mortos que são trazidos à vida por bokor, uma classe que se assemelha a um xamã. Esses humanóides reanimados se tornam escravos, obedecendo qualquer ordem e não oferecendo nenhum risco ao seu suposto mestre, a única maneira de acabar com essa prisão mental seria alimentando-os com sal. Em resposta a prática dos bokor, uma lei foi aprovada proibindo a criação de zumbis: trata-se de um artigo que condena o uso de substâncias que causem estado de letargia. A partir dessa lei fica fácil relacionar o uso de tais substâncias com a prática da hipnose.

O doutor Wade Davis viajou ao Haiti para fazer pesquisas sobre esses fenômenos após ter conhecido o caso de Clairvius Narcisse, um homem que havia morrido, mas retornou a vida certo tempo depois; sendo dada a atribuição de sua volta ao feitiço de um bokor. Davis pesquisou profundamente sobre a cultura haitiana e chegou até os rituais de criação de zumbis. Esse ato envolvia, além do manifesto religioso, o uso de certas substâncias no formato de um pó, denominadas pó de zumbi. Davis coletou amostras de diversos pós diferentes e neles encontrou algumas substâncias em comum, entre elas estavam a tetrodoxina e diversas substâncias com a finalidade de irritar a pele. A teoria que o doutor Wade Davis desenvolveu foi de que o bokor, ao aplicar o pó, faria com que a tetrodoxina fosse absorvida pela pele irritada, atingindo então os vasos sanguíneos e deixando a pessoa com aparência de morta. Após o enterro, o bokor voltaria para o túmulo, retiraria o corpo e aguardaria o término da duração do veneno; todos acreditariam na existência de um zumbi. Apesar de ser uma teoria promissora, alguns testes com o suposto pó de zumbi mostraram que ele era ineficaz em muitos casos, o que tornou a tese de Davis uma fraude.

O contexto de zumbis acabou sendo eternizado, e um tanto modificado, pelo cineasta George A. Romero, diretor d'A Volta dos Mortos Vivos e de tantos outros filmes de zumbi. A influência do conceito inovador de Romero atingiu muitas obras que utilizam a figura do zumbi, podemos citar jogos (Resident Evil), quadrinhos (The Walking Dead) e filmes (Madrugada dos Mortos).

Por hoje é só, espero que tenham gostado, até mais e durmam com o abajur acesso!

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Feliz Aniversário

FELIZ ANIVERSÁRIO para o Falando de Fantasia, que hoje está fazendo um ano de vida! O projeto de mostrar a outra face da fantasia para quem tem vontade de se aprofundar no assunto surgiu da falta que senti de um blog específico. Em mãos tinha como criar e hospedar um blog com um conteúdo diferente dos demais e com certo público proveniente da comunidade Escritores de Fantasia. Não direi que o trajeto até chegar aqui foi longo e difícil, pelo contrário, as coisas começaram a andar quando fiz minha primeira parceria, no caso com o Fabulário. A partir desse momento, com minha divulgação pelo Orkut e novas parcerias sendo feitas, o número de visitantes duplicou, triplicou e agora conta com cerca de 150 visitas diárias. Nunca pensei que algo que eu "dissesse" valeria tanto a pena de ser lido.

Nessa data tão especial, fiz questão de mudar totalmente a layout, pedi ao meu amigo Willian Sertório que tornasse a aparência mais limpa e eficaz. Ainda estarei trabalhando em algumas pequenas mudanças, espero que estejam gostando!

Hoje o blog contém já muitos artigos armazenados, infelizmente meu sonho de montar uma equipe para aumentar o número de artigos vai ficando para trás. Não posso esquecer-me de avisar que também já mandei criar um logotipo para o Falando de Fantasia; no caso foi o ilustrador João Lestrange quem deu a honra de seu trabalho. Esse logotipo servirá para ilustrar uma camiseta que em breve irei estampar, só para deixar mais claro, não pretendo vendê-la; a não ser que alguém se interesse em comprá-la.

É isso, vamos cortar um pedaço de bolo, brindar com hidromel, acender uma fogueira e urrar cantigas junto de um bardo. VIVA O FALANDO DE FANTASIA!

terça-feira, 22 de julho de 2008

Nausicaä do Vale do Vento

Sentiram saudades? Espero que sim, pois fiquei praticamente um mês sem qualquer contato com o meio virtual; motivo disso já foi explicado no final do último artigo. Esse meio tempo teve seus bons momentos: li algumas obras de ficção científica, descobri que Dostoiévski é enorme e que O Pequeno Príncipe é uma obra maravilhosa, também pude ler Nausicaä e comprar um belo cacto que já está acomodado na estante do computador. Hoje decidi falar sobre mais essa obra de arte que surgiu da mente brilhante de Hayao Miyazaki, famoso por O Castelo Animado e A Viagem de Chihiro.

Nausicaä do Vale do Vento surgiu da fascinação de Hayao Miyazaki pela personagem de mesmo nome que aparece no livro Odisséia. Nausicaä era uma princesa bonita e sonhadora, moradora da ilha de Feácia, gostava de tocar harpa e tinha uma decidida paixão pela natureza. Ela salvou Odisseu quando este apareceu ensanguentado na praia. Pressionado pelos pais de Nausicaä, Odisseu partiu sem demora, o que acarretou na tristeza da bela princesa. Ainda de acordo com a lenda, Nausicaä não se deu o luxo de casar-se, tornando-se então a primeira mulher menestrel, espalhando assim as histórias das aventuras de Odisseu.

Hayao comparava frequentemente essa heroína, pouco destacada dentro do próprio livro Odisséia, com uma princesa das fábulas japonesas. Essa princesa, vinda de uma família aristocrática, era tratada como esquisita por seus hábitos excêntricos. Possuía sobrancelhas escuras e dentes brancos, coisas incomuns até então, e, apesar de sua idade, se divertia brincando nos campos e observando a magia da natureza; sendo os insetos alvos de sua maior admiração. Infelizmente, aponta Miyazaki, diferente de Nausicaä, a "princesa que adorava insetos" nunca teve um Odisseu naufragando em suas praias. Toda essa mescla de sentimentos tornou Nausicaä, personagem de Hayao, uma garota sensível, forte e corajosa; a típica personagem que prende o leitor em poucas falas e ações, criando assim maior afeição pela obra!

A história se passa mil anos após a Guerra dos Setes Fogos; momento em que metrópoles inteiras decaíram pela alta quantidade de substâncias tóxicas que elas mesmas produziram. O mundo moderno, as indústrias e a tecnologia avançada foram engolidas pelo tempo e perdidas no esquecimento. A maior ameaça presente nesse mundo é a contínua expansão do Mar Podre, uma floresta que contém plantas que emitem um gás nocivo as formas de vida comuns, com exceção dos insetos. Não se sabe como surgiu o Mar Podre e como evitar que este devaste o pouco que sobrou do mundo. Nausicaä, princesa do pequeno reino do Vale do Vento, busca compreender a origem e a função da floresta, enquanto se vê representante do seu povo, já que seu pai foi infectado pelo veneno. O ambiente hostil em que se passa a trama contribui para quebrar conceitos de bem ou mal, já que todos estão em uma batalha de sobrevivência.

Ainda não tive a oportunidade de ver a animação, apenas li os quadrinhos. Não há muita diferença entre ambos, já que Hayao conseguiu compactar a história de modo espetacular; ele mesmo prefere a animação, que está mais direta e dinâmica. Fica aqui a dica: leiam o trabalho original (encontrado facilmente em bancas, revistarias ou livrarias, já que foi relançado) ou assistam a animação que é considerada por alguns fãs como a maior criação de Miyazaki!

Espero que tenha gostado e fiquem de olho que logo será o aniversário do Falando de Fantasia. Até a próxima!

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Tigres de Areia

Desde que comecei a levar a escrita como algo sério, vi que os horizontes para ela podem ser amplos. Sempre fui um fã assíduo de fantasia, sempre; isso talvez por ter tido contato com RPG muito cedo, o que me levou a conhecer Forgotten Realms, Tormenta e Holy Avenger, por exemplo. A idéia de escrever um livro, podendo inserir histórias fantásticas nas cabeças dos meus "futuros leitores" sempre me pareceu excitante, mesmo quando não tinha base sequer para uma redação mais elaborada. O tempo passou e os livros que li, as pessoas que conheci e os meios em que tive o prazer de estar, me mostraram que nada é tão simples assim, para qualquer objetivo é preciso de esforço, dedicação e um bom conhecimento. Minha primeira iniciativa foi criar um lugar onde eu pudesse colocar minhas poesias para que outros leitores criticassem-na, isso foi quando surgiu meu extinto blog Poesia Morta. Poesia sempre foi uma paixão minha; paixão que se tornou absoluta quando descobri que a forma da poesia pode ser direta, mas ainda assim expressar tantos, ou mais, sentimentos que uma prosa. Apesar de tudo, ainda não me sentia satisfeito o bastante.

Recomendações de colegas da Escritores de Fantasia, há um bom tempo atrás, indicaram que o melhor modo de um aspirante a escritor começar a ter noções da estrutura de um texto, seria escrevendo contos. Contos são interessantes por sua estrutura rápida, objetiva e muitas vezes chocante. A princípio detestei a idéia: escrever uma história em poucas páginas não me era agradável, parecia mais um sacrifício. Após quebrar a cabeça com textos longos e carregados, decidi investir mesmo em contos e foi aí que surgiu uma nova paixão; paixão que tive o prazer de dividir com um grande amigo meu que também aprecia a arte dos contos (mais especificamente os micro-contos).

Conversas de MSN, teorias sobre como poderia surgir uma nova escola literária, discussões sobre autores e a constante troca de textos, permitiram que surgisse o blog Tigres de Areia. O blog, que na verdade é um projeto que ainda dará frutos, basicamente apresenta textos meus e do meu amigo Willian Sertório. Como somos admiradores da Mojo Books, resolvemos também colocar os contos que mandamos para lá (e que felizmente verifiquei que estão na lista de análise), assim não desperdiçamos nenhum material que passou de "MSN a MSN". Não posso revelar ainda quais são as pretensões do blog, pois ele necessitará de alguns elementos fundamentais para funcionarem (de qualquer forma, todas as novidades serão devidamente colocadas por lá).

Bom, fica aqui a dica de leitura. Sintam-se a vontade para entrarem lá e criticarem como bem entenderem, afinal, nós dois precisamos de uma avaliação rigorosa além da nossa própria.

Também gostaria de avisar que estarei de mudança (não de blog, mas de casa mesmo), por isso é possível que eu fique sem internet por uma semana; espero que entendam a falta de artigos nessa primeira semana de Julho. Até mais pessoal!

terça-feira, 24 de junho de 2008

As Cosmicômicas

É simplesmente uma ficção científica que se desenrola em um passado tão obscuro, mas tão obscuro, onde poucas estrelas despertaram em todo seu esplendor, onde o vácuo predomina toda a imensidão do universo e onde milênios passam como se fossem minutos. Somado a este mundo estão romances lunares, famílias que habitam uma nebulosa, um dinossauro que se adapta em uma vila de humanos em plena extinção de sua espécie, um mundo completamente sem cores e um herói com um nome impossível de ser pronunciado. Assustados? Confusos? Eu também fiquei ao ler basicamente esse resumo sobre essa maravilhosa obra do escritor italiano Ítalo Calvino.

As Cosmicômicas, como já disse, é um livro muito excêntrico, acho que é diferente de tudo que já li. Impossível dizer se ele é realismo fantástico, fantasia ou simplesmente ficção científica; os doze contos, independentes entre si, formam uma história muito superior a qualquer tentativa de classificação. O tema central do livro é a origem do universo e o desenvolvimento dos primeiros seres terrestres (e cósmicos, pois muitos personagens vivem no universo, antes mesmo da criação de qualquer planeta ou galáxia). O herói se chama Qfwfq, ele acaba por fazer o papel de narrador e protagonista, sendo na pele de um único ponto ou de um membro dos primeiros vertebrados terrestres. É interessante ver que o tempo é insignificante no decorrer das histórias, enquanto Qfwfq torna-se uma mera testemunha ocular das teorias científicas e antropomórficas do surgimento de tudo. Por se tratar de um livro bem humorado, cada conto (ou capítulo se preferirem) é acompanhado por um parágrafo de teor científico que aborda o que virá ser a história, esta que acaba por ignorar a explicação áspera para dar uma abordagem mágica e surreal à história que se passa.

Ítalo Calvino nasceu em Cuba, mas, logo após o seu nascimento, retornou com a sua família para a Itália. Formado na faculdade de Letras, participou da resistência ao fascismo durante a guerra e foi membro do Partido Comunista até 1956. Calvino, renomado jornalista e escritor de contos, ficou marcado na literatura internacional após ter escrito os livros As Cosmicômicas, Cidades Invisíveis e Se um Viajante Numa Noite de Inverno.

Ao longo do tempo muitos estudiosos tentaram classificar o estilo de Ítalo Calvino, o que abrangeu desde conto de fadas até o termo realismo fantástico; o único fato é que suas obras expressam de modo amplo o sentimento do que é o pós-modernismo. O experimental As Cosmicômicas não foge desse sentimento, possuindo histórias divertidas, mas com idéias simbólicas bem subjetivas. Os leitores, mesmo sem nunca terem lido outra obra de Ítalo Calvino, poderão rapidamente captar a profundidade dos contos; contos que são reflexos dos problemas sociais ou pessoais dos dias atuais. Vale dizer que um dos que inspiraram esse grande escritor contemporâneo foi Jorge Luis Borges, o qual eu falarei sobre seu livro Ficções em breve.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Orcs

Velhos conhecidos do bom "pilhar, matar e destruir"! Quem leu os livros de J. R. R. Tolkien, jogou pelo menos algumas partidas de Dungeons & Dragons ou ainda perdeu algumas horas com um jogo de RPG ou aventura, conhece há um bom tempo esses seres que costumam fazer o papel de capatazes dos vilões, mercenários sem qualquer código de honra ou ainda criaturas terrivelmente malvadas; é claro, todos estereótipos bem clichês e visivelmente deixados pela trilogia O Senhor dos Anéis.

Os orcs (ou ainda denominados orks) são criaturas malévolas que povoaram a cultura germânica, mas que saltaram para a fantasia medieval quando foram empregados em diversos livros de fantasia. A aparência de um orc é caricaturesca; ele possui uma pele enrugada com uma tonalidade que varia do verde ao marrom, possui olhos avermelhados, algumas vezes carrega presas salientes que formavam um rosto semelhante ao de um javali, os orcs normalmente são grandes, musculosos e muitas vezes mais aptos a trabalhos que envolvem força física que os homens, possuem também orelhas pontudas, narizes deformados e pêlos em todo o corpo. Todos esses atributos somam-se com a mutabilidade e a adaptabilidade da fisiologia do orc, tornando-o uma criatura perigosa desde seu nascimento; e muito requerida por vilões, assim como vemos em tantas obras de literatura fantástica ou ainda em jogos de RPG.

A palavra "orc" possui uma etimologia bem misteriosa; J. R. R. Tolkien foi quem usou o termo pela primeira vez em um livro de ficção para nomear os seres que conhecemos hoje. O termo foi derivado de orc, uma palavra pertencente ao Antigo Inglês que significa demônio. Orc foi provavelmente extraído também da palavra þyrs, que é cognato de þurs, termo retirado do Velho Nórdico que significa gigante ou ogro; essa palavra era utilizada para designar um monstro descendente do gigante Ymir. Em Beowulf a palavra orc também aparece, contudo referindo-se à uma taça de metal preciosa. Existem também teorias de que a palavra possivelmente fora inspirada em orque, huorco e orco, todas palavras diferentes, mas que possuem o mesmo significado e a mesma origem, que no caso é da palavra em latim orcus. Orcus era o nome do deus romano da morte, este era considerado demoníaco, maligno e ogro; provavelmente foi o que derivou o estranho termo orc do Antigo Inglês. J. R. R. Tolkien, porém negou o uso do termo em função da etimologia vasta, como vocês viram, dizendo que se inspirou no latim orca, referente à baleia. Vale lembrar também que a tradução para o português do livro O Hobbit foi ignorante ao traduzir goblins como orcs; criaturas de naturezas distintas.

Uma tribo de orcs se organiza de forma bem rudimentar e selvagem. Sua sociedade é puramente militarista, tendo em seu comando um general que comanda com auxílio de capitães. Em alguns livros os orcs são guiados por xamãs ou líderes mais velhos e, portanto mais sábios. De natureza xenofóbica, os orcs não costumam se misturar com demais raças, a não ser que estas sirvam de escravos até o final dos seus dias. Com sua postura inteiramente bélica e sem escrúpulos, J. R. R. Tolkien tentou retratar a sociedade que existia durante a Segunda Guerra Mundial, onde soldados matavam, destruíam e sempre marchavam em frente, ignorando tudo e nunca se importando pelo o que estavam exatamente guerreando. Ele também via nos orcs as indústrias e o avançar das máquinas sobre os homens, o que causava poluição, degradação do meio ambiente e a exploração de trabalhadores.

No livro Listerim Braner - O Começo de Tudo a origem dos orcs propriamente ditos se confunde com a criação dos elfos. A lenda contava que o deus Ortus havia decidido criar seres incríveis, de beleza imensurável e que poderiam viver eternamente se cumprissem o ritual de sempre comparecerem à Filiimei há cada dez mil visões da Lua. Acabou que surgiram três raças de elfos: a Walere, a Discendö e a Magnus. Esta última era composta por elfos robustos e maiores, eram também menos inteligentes e que possuíam um gênio cruel para com outros seres. Decepcionado, Ortus os baniu das terras de Filiimei, sendo estão condenados a viver na Floresta Negra, que se estendia da Alemanha até o Mar Mediterrâneo. Não sendo o bastante, Ortus decidiu privá-los da beleza, assim tornou suas aparências terríveis e dignas dos seus gênios. Há uma série de fãs da Terra Média que criam teorias que envolvem o mesmo raciocínio dessa lenda para explicar o surgimento dos orcs.

Hoje em dia você pode encontrar um orc em qualquer livro de fantasia. Muitos inventaram genéricos para fugir do clichê óbvio que se tornou a criatura malvada que é o orc; como os urgals da série A Herança de Christopher Paolini. O bacana para quem costuma escrever contos de alta fantasia é fugir desse maniqueísmo iniciado pelo velhinho inglês; às vezes o homem se mostra mais perverso que qualquer outra criatura. Bom, espero que vocês tenham gostado, até a próxima e por favor: sugiram assuntos!

terça-feira, 17 de junho de 2008

Fantasticon 2008

Eu já tinha em mãos essa notícia há certo tempo, mas evitei colocá-la aqui no Falando de Fantasia porque queria que todos vocês, leitores, não deixassem de participar por terem esquecido a data, local e outros detalhes. Nos dias 5 e 6 de Julho, o Colégio Marista Arquidiocesano, na Vila Mariana, em São Paulo, sediará a Fantasticon 2008 - II Simpósio de Literatura Fantástica; evento que integrará o XVI Encontro Internacional de RPG.

Nem preciso dizer que os apreciadores dos gêneros terror, fantasia e ficção científica irão aparecer em massa. Quem foi nos debates realizados na Livraria Cultura sabe do gostinho que ficou para pegar cada assunto para discutí-lo ao máximo, por isso mesmo a Fantasticon 2008 contará com palestras, workshops, mesas-redondas, mostra de curtas, lançamentos, exposições, entre outras atividades mirabolantes. Espero que os caros leitores do Falando de Fantasia façam uma força para comparecerem por lá! Para mais informações, acessem essa página do Universo Fantástico que contêm toda a programação e a relação de todos os palestrantes.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Sobre a mesa-redonda na Livraria Cultura

Nesse último Sábado, eu, acompanhado dos meus amigos, incluindo o colaborador Guilherme Henrique, fui à tão esperada mesa-redonda sobre literatura fantástica que rolou na Livraria Cultura do bairro Morumbi, em São Paulo. Com sucesso e muita paciência, sai do interior de São Paulo e andei por quatro diferentes linhas do transporte ferroviário para então chegar ao local marcado. Foi uma viagem cansativa, mas nada se comparado aos apuros que nosso camarada Ulisses teve de passar em sua odisséia.

Em primeiro momento avistei algumas figuras bem conhecidas na comunidade Escritores de Fantasia, lá estavam: Antonio Luiz, criador da comunidade, Claudio Villa, escritor do romance Pelo Sangue, Pela Fé, Ana Cristina, presidente do Clube de Leitores de Ficção Científica e mediadora do evento, Douglas, reconhecido pelo Necrópolis, Christie, autora que recentemente lançou o livro Fábulas do Tempo e da Eternidade, Marcelo Augusto, Mushi, criador da fanzine Mushi Comics, e, não menos importante, Horácio, organizador da mesa-redonda. É claro que os que só se conheciam pela comunidade ficaram com receio de se cumprimentarem, mas ainda assim a recepção platônica foi calorosa. Alguns minutos após a abertura do auditório, já se viam muitas pessoas interessadas na mesa-redonda, algo que se consolidou logo que a sala se mostrou cheia. Entre a platéia estavam alguns convidados inesperados, tais como André Vianco, que dispensa apresentações, e Ludimila Hashimoto, tradutora dos livros Voz do Fogo, de Alan Moore, e da série Discworld, de Terry Pratchett. A mesa que daria início ao debate caloroso que rendera três horas ficou por conta de Ana Cristina, Claudio Villa, Orlando Paes Filho, autor da série Angus, Delfín, coordenador editorial da Editora Aleph, Sílvio Alexandre, organizador da Fantasticon, Rogério Campos, editor-chefe da Editora Conrad, e Gianpaolo Celli, editor-chefe da Tarja Editorial.

O debate começou com uma breve, não tão breve assim, apresentação dos participantes da mesa; o melhor desse momento foram algumas revelações do que viria a ser a Fantasticon. Infelizmente o tópico sobre New Weird fora diluído, mas ainda assim todos os demais foram devidamente respeitados. Alguns assuntos que caíram na mesa devem uma melhor atenção por minha parte ao escrever esse artigo. O assunto começou falando-se do preconceito que o público adulto vê nos livros de fantasia, achando que estes são destinados apenas aos públicos infantil e infanto-juvenil, surgiu daí até um momento cômico, onde relataram que títulos como Discworld e Druuna já foram vistos ao lado de Snoppy e Cebolinha; debateram também sobre autores iniciantes que insistem em antes de começar a escrever um livro, anunciá-los como trilogia e livros que irão revolucionar a fantasia. Como o próprio Villa enfatizou, existem até autores que antes mesmo de começar a escrever o livro, fazem uma sinopse do que seria a idéia e a divulgam, a fim de outras pessoas opinarem. É lógico que é preciso antes de tudo planejamento, algo que dificilmente entra na cabeça de um autor iniciante, que quase sempre entende o livro como um produto a ser vendido ou ainda como meio de futuramente deste se tornar um longa-metragem; estes foram outros dois tópicos fortemente discutidos; inclusive foi discutido em conjunto da platéia, onde André Vianco pôde aproveitar a circunstância para contar sobre sua experiência no campo literário e entrar em outra discussão, que foi sobre como ser publicado. Claudio Villa relatou como foi seu investimento para a publicação de seu livro, o que envolveu desde a venda do seu carro para suprir o preço da impressão até sua coragem de ir de livraria em livraria oferecer seu livro.

O público introduziu na mesa também assuntos como valores dentro dos livros de fantasia, o que fez com que todos mirassem Orlando Paes Filho, pois seus livros carregam consigo uma forte idéia moralista sobre o cristianismo, ilustrações nos livros, se isso tornaria um título adulto muito infantil ou tirasse o fator imaginação do leitor, e recomendações por parte da mesa. Entre um assunto e outro, surgiu uma notícia que deve ter pegado muitos de surpresa: uma iniciativa que criou uma pós-graduação para se torna escritor. Sim! Soa incrivelmente estranho e surreal, mas é a verdade, agora é possível ter um diploma em sua parede para se tornar um escritor. Ao final da mesa-redonda ficamos sabendo dos futuros projetos de Ana Cristina, que inclui uma coletânea com contos de sua autoria, e ainda assistimos em primeira mão um comercial feito para os metrôs do próximo lançamento da Editora Aleph, créditos ao Delfín, no caso a edição comemorativa de 25 anos do livro Neuromancer, de William Gibson, o qual já citei no artigo sobre Cyberpunk.

Vale ressaltar que a mesa-redonda foi recheada de momentos únicos, onde Rogério, ateu, cutucou o anarco-cristão Orlando Paes (“Sou ateu mesmo, acho que Deus é um péssimo personagem!”), e brincou com a idéia do diploma de escritor (“Agora vocês podem chegar à Academia das Letras e tirar todos os velhinhos que não tiverem diploma.”); nem é preciso dizer que ele foi digno de aplausos após altas gargalhadas. Queria também parabenizar a atitude de Orlando Paes em aceitar as brincadeiras, não se alterando.

Saindo do auditório tive o prazer de cumprimentar algumas das figuras que comentei anteriormente. Além dessa ventura, ainda pude encontrar com quatro membros do fanzine Fabulário; a oportunidade foi ótima, pois além de nos conhecermos, voltamos rindo durante a entediante viagem de volta. Recebi também das mãos do autor Fábio Ciccone a fanzine Magias & Barbaridades, o qual li, ri,gostei e já projetei como uma futura aliança.

Para quem não foi, mas gostaria de rever toda a trajetória das diversas discussões que permearam nesse Sábado, logo estará disponível no YouTube os vídeos contendo as três horas do evento. Bom, esse foi apenas o aquecimento para o que virá na Fantasticon! Espero que encontre mais pessoas e que volte com mais assunto para debater por aqui. Até mais pessoal e espero que tenham sido incitados a participar desses eventos.