Em uma tarde de ócio com meus amigos meio intelectuais, começamos a debater sobre como seria a mitologia de povos que não receberam devido destaque, como os gregos e egípcios. Por exemplo, para os esquimós, que viviam em um mundo gelado, sem muitas cores, sem contato com uma diversidade enorme de flora, qual era a visão de deus supremo? Qual seria sua visão de paraíso? O oceano ao invés do céu? Bom, essas questões e mais algumas outras foram levantadas nesse papo, e daí surgiu meu repentino interesse por mitologias apagadas, por assim dizer. A entidade Sedna, portanto foi a mais preferível a ser citada de prontidão nessa busca por mitos desconhecidos. Essa foi uma deusa marcante da mitologia esquimó e recentemente um planeta foi até batizado com seu nome!
Existem diversas versões acerca de como Sedna se tornou uma deusa, variando de região para região, porém todas têm um senso comum: Sedna é a mãe de todas as criaturas marinhas, podendo controlá-las para o bem ou o mal dos caçadores esquimós. Alguns outros nomes são utilizados também pare referir-se a ela; como Arnakuagsak (Groenlândia) e Nerrivik (Alasca).
Uma das lendas, talvez a mais famosa, diz que Sedna era uma moça encantadora que vivia em uma situação bastante confortável junto dos pais. A caça e a pesca estavam fartas e nada lhe faltava. Isso era bom, pois também servia de desculpar para ela recusar o pedido de casamento dos seus admiradores Inuit. Sedna quebrava a tradição ao preferir ficar com seus pais a se casar; até seus pais insistiram para que ela mudasse de idéia.
Certo dia um Inuit apareceu e convenceu Sedna a se casar com ele, prometendo abundância de peles e cobertores, fartura de alimentos e conforto. Tudo o que Sedna desejava. Após estarem casados, este estranho homem a levou para sua ilha, que estava bem distante de onde Sedna morava. Quando estavam sozinhos, o homem se revelou na verdade um pássaro, um pássaro da cintura para cima, para ser mais preciso. Não é preciso dizer que Sedna se enfureceu, mas isso só resultou em seu cárcere; nessa situação, ela só poderia aproveitar o que fosse possível. Infelizmente, como um pássaro, ele não conseguia peles e carne, pois só podia pescar.
Entre um peixe e outro, o tempo foi passando. Decidido, o pai de Sedna foi visitá-los. Ao descobrir que o marido de sua filha era na verdade um pássaro, e não um bom partido, ficou enraivecido! Não pensou duas vezes em matar o mentiroso. Foi então que Sedna e seu pai tomaram seu caiaque e seguiram de volta para casa. Porém, nesse meio tempo, os amigos do homem-pássaro ficaram sabendo do assassinato e decidiram se vingar. Voando por cima do caiaque e batendo as asas com força, os pássaros conseguiram provocar uma enorme tempestade, que gerou ondas que deixam o caiaque na vertical.
Com o barco enchendo-se de água e a possibilidade de morrer afogado nas águas gélidas, o pai de Sedna decidiu jogar o corpo de sua filha no mar, assim, pensava ele, os pássaros poderiam parar com o bater das asas, acalmando a tempestade. Desesperada, Sedna segurou-se com força na extremidade do caiaque, o que não impediu seu pai de cortar friamente seus dedos. Foi nesse momento que algo surrealista aconteceu, pois de cada articulação dos dedos de Sedna surgiu um animal marinho diferente, como focas, baleias, peixes e morsas. Sedna naufragou, atingindo o fundo do mar. Lá pode se tornar um espírito, com corpo de mulher e cauda de peixe; algo bem semelhante ao aspecto das sereias.
Esse mito fez com que o Inuit respeitassem mais os animais marinhos, para agradar Sedna e garantir uma boa época de caça e pesca. Caso desrespeitassem algum tabu, um Xamã poderia se incumbir de mudar sua forma para a de um peixe e mergulhar até o fundo do oceano, lá teria de pentear os cabelos emaranhados de Sedna (ela não tem dedos!), apaziguando assim sua ira.
Para os mais interessados, aqui vão minhas recomendações:
Um pouco sobre a Mitologia Esquimó
Até o próximo capítulo pessoal!
quarta-feira, 23 de abril de 2008
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