segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

A Mão Esquerda da Escuridão


Como vai pessoal? Espero que bem depois desse Natal farto e recheado de todo o tipo de alimentos calóricos. Presentes? Eu não ganhei nada e vocês? Ontem acabei de terminar outro livro retirado da biblioteca, no caso a obra prima da autora Ursula K. Le Guin. Para os que já estão torcendo o nariz, aviso que se preparem, pois estou com um projeto novo em andamento: trata-se de um blog que focará apenas em criaturas mágicas, mitologia e outros seres fictícios. No momento estou aprontando as configurações e o layout, mas quando tudo estiver pronto, avisarei imediatamente aqui no Falando de Fantasia!

A Mão Esquerda da Escuridão foi um importante marco dentro dos livros de ficção científica, sendo respeitado até mesmo por escritores de outros gêneros; não foi por menos que recebeu os prêmios Hugo em 1970 e Nebula em 1969. O livro foi recentemente lançado pela editora Aleph, onde foi organizado até uma palestra sobre a vida e a obra da autora.

A história se passa dois anos após a chegada de Genly Ai, enviado do planeta Terra em serviço do Conselho Ecumênico, ao planeta Gethen, mais conhecido pelos pesquisadores como planeta Inverno, devido a seu clima glacial. A característica mais importante do planeta, além do clima, é o fato de todos os habitantes serem hermafroditas, não existindo homem ou mulher, o que contribui para a riqueza do cenário e o entendimento da cultura getheniana. A missão de Genly Ai é negociar com os governantes gethenianos a entrada do planeta ao conselho intergaláctico ecumênico, que funciona como uma confederação que organiza outras civilizações humanas distribuídas em mais de 80 planetas. A trama passa a se intensificar quando Genly presencia a constante tensão entre as nações de Karhide, onde reside, e Orgoreyn. A diferença crucial entre os dois locais é o fato de um possuir um regime de monarquia e o outro de uma democracia (que acaba por incluir até um orgão de censura, no livro chamado de Sarf).

Desde o início da história é o primeiro ministro Estraven quem acolhe e se torna amigo de Genly Ai; a relação que mantêm é um tanto fria e acaba por se tornar uma inimizade após um suposto golpe por parte de Estraven, porém o exílio deste, sua fuga para Orgoreyn e sua memorável travessia pelos gelos eternos ao lado de Genly tornam a amizade deles outro ponto genial do livro! Neste momento é que o leitor observa que não há um antagonista, mas sim sociedades com situações adversas (e injustas) aos protagonistas.

Perseguições, traições políticas, exílio, incesto, suicídio, tortura e alienação são alguns dos elementos que contribuem para um clima pesado e conturbado no enredo, apesar de muia coisa ser implícita e as cenas não serem chocantes. O interessante de ser observado é o estudo antropológico, sociológico e psicológico que se dá na ótica do leitor bem informado. Ursula K. Le Guin utiliza a construção do seu universo para estudar certas características sociais: dualismo, manequísmo, patriotismo, relações amorosas, amizade, poder, etc. É terrivelmente engraçado entender certos mecanismos que só existiriam em uma sociedade hermafrodita (como o fato de não existirem guerras ou conflitos diretos).

Para enriquecer a história vivida tanto na ótica de Genly Ai quanto na de Estraven, existem capítulos dedicados ao mito de criação do mundo, lendas, histórias, diferenças do planeta Inverno em relação ao nosso e à religião. Posso afirmar que é um mundo tão bem construído quanto a Terra Média ou o planeta Duna. Uma trama inovadora para os jovens, um metáfora sobre a humanidade para os adultos e uma história inesquecível para ambos, vale a pena dar uma conferida. Até a próxima, caros leitores.

Toda ficção é metáfora. Ficção científica é metáfora.
Ursula K. Le Guin

3 comentários:

Willian Sertório disse...

Só vou ler até a parte do incesto.

Lucas L. Rocha disse...

Eu quero é entender porque a Ursula ainda não ganhou o Nobel... mas com certeza vou procurar e ler :D

Anônimo disse...

Esse é o meu livro de cabeceira, Cezar, releio todos os anos. E tenho no meu mural aquele poeminha do livro escrito de próprio punho pela Ursula.

E Lucas, Michael Chabon concorda com você, também acha que ela merece o Nobel. Quem sabe dentro de mais alguns anos, quando a Ursula estiver chegando na idade da Doris Lessing?

Eu acho que sei por que ela ainda não ganhou: é ficção científica. Coisa que não combina com academia.