Escritores de fantasia sofrem com a falta de compromisso das editoras em ler o material enviado, na verdade poderia dizer que sofrem em dobro, pois infelizmente o gênero fantástico não é considero muito vendável no nosso páis. Algo que chega a ter contraste com o enorme número de apreciadores de fantasia, bem como RPGistas e outros leitores. Talvez o que torne o gênero inviável seja o fato de que o povo brasileiro não tem o costume de ler livros, ou talvez isso só seja uma parte de uma cadeia de problemas.
Para tamanha crise, há diversas soluções. Uma delas, como já citei, é se auto publicar, mas é um método que sai caro e muitas vezes não chega a valer a pena, afinal, não há publicidade e a distribuição pode depender apenas de você. Outra dica, enfatizada pelos editores, é conseguir uma referência de algum escritor famoso ou de um figurão qualquer, nesse caso são necessários contatos e não é qualquer um que pode tê-los tão facilmente. Por fim existem os casos de pessoas que conseguiram se dar bem com publicações em outros países, esse é um processo que não sai muito barato, pois além de uma pesquisa a fundo no target estrangeiro, é aconselhável o emprego de algum tradutor confiável.
O caminho para ser escritor é doloroso, mas para quem o deseja com corpo e alma, pode gerar belos frutos. E é dessa forma que posso apresentar o testemunho de um escritor brasileiro que hoje em dia pode ser considerado best-seller, mas que em outrora fora tão importante quanto eu ou você. Encaixo aqui o relato de André Vianco, famoso por seus livros de fantasia com teor vampiresco, que precisou se auto publicar para mais tarde assinar um contrato com a sua atual editora Novo Século:
Testemunho retirado de um tópico de discussão da comunidade Escritores de Fantasia, que abordava justamente o assunto. Para quem leu, fica a experiência vivida por mais um ex-membro do clube dos não-publicados, mas para todos fica a "boa sorte" e o tapinha nas costas tão merecido aos escritores que nunca desistem e sempre seguem de cabeça erguida.Uma porção de coisas...
Sobre as editoras, também já perdi a conta de quantas cartinhas dessas eu recebi na vida. Tá certo que hoje é diferente, não que haja editoras disputando a tapa o que eu escrevo, mas estou certo que caso quisesse mudar de casa editorial seria um processo bem mais confortável do que há quatro anos. O começo não é fácil numa série de áreas, na literatura então, chega a ser quase que proibitivo. Sério! Quem aqui já chegou com a cara e coragem em casa, para os pais, familiares e amigos e disse, serei um romancista, um escritor? Serei roteirista. Faça isso, pai e mãe podem achar bonitinho e vão te apoiar com um sorrisinho amarelo na sala, mas, a noite, no quarto do casal vão trocar fuxicos e tentar descobrir quem foi que botou essa idéia doida na sua cabeça, vão trocar acusações e tal e coisa. Podem amar a idéia, claro, ser escritor e viver disso é glamouroso, há toda uma fantasia ao redor dessa profissão. Mas seus pais vão pensar: e se ele resolver casar? Como vai sustentar a casa?
Pois é, o melhor conselho que dou a vocês é, se querem ser escritores de verdade e viver disso, então não desistam nunca. Primeiro, para começar você vai precisar, sim, ter outro trabalho para se manter ou manter a família. Não tem jeito. Ninguém fica milionário do dia pra noite vendendo livros ou ganhando direitos autorais no ramo da literatura (é claro que existem as exceções a regra, as Brunas Surfistinhas e sucessos instantâneos, que costumam ser bem efêmeros. Alguém ai lembra da Mônica Bonfiglio, o tal do Paes do Angus e mais um bom número desses nomes que vem e que vão?). Essas cartas negativas das editoras não vão parar de chegar. Se vier um “sim” no caminho agarre-se a ele como um náufrago se agarra a um bote, mas cuidado, algumas editoras são bóias cercadas de tubarões por todos os lados.
Comece a poupar um dinheirinho. Vai guardando um pouco por mês. Uma hora você vai perceber que para os editores você não é nenhum gênio brilhante e vai começar a duvidar de você mesmo. Então poupe grana e publique por conta antes que você desista de você. Lembra do que falei no começo? Nunca, nunca desista. Bem, tratem também de uma realidade delicada. Sê sincero contigo. Seu texto é bom mesmo? Você tem talento? Pode não ser um primor, mas seu texto tem que incendiar alguém tem que fazer a pessoa ficar colada no livro ou despertar reflexões interessantes que a leve até o fim da história. Se sua história é chata, reescreva. Submeta seus livros aos amigos. Depois peça que eles levem o livro para pessoas que gostem de ler, mas que nunca te viram mais gordo. Não precisa vencer todos, mas tem que arrancar admiração da maioria. Não superestime seu texto. Isso atrapalha. É bom achar críticas antes de chegar aos editores e editoras. Você vai dar uma esmerada no texto, vai tentar enxergar onde errou. Agora, se trinta em trinta amigos inventarem uma desculpa cabeluda ou esfarrapada para não ler o seu livro, mau sinal. Ser talentoso é crucial para ajudar no começo. É claro que um em um milhão nascem prontos, são fantásticos e irretocáveis nas primeiras linhas. Não é o meu caso. Talento para ser um contador de histórias eu tenho de sobra, mas até aceitar cá comigo que sou um grande escritor, acho que demora um pouquinho.
Dou-me com o trato do texto, adoro revisar, melhorar o que está escrito, mas erro as pencas, difícil acertar uma crase (pode? acho que é defeito de fábrica), mas não me encolhi diante desse obstáculo e hoje escrevo muito melhor do que no começo, é um processo natural vindo do estar todo dia sentado ao teclado, inventando, narrando, trabalhando, suando, lendo, aprendendo, escutando os outros escritores que deixaram obras alucinantes para todos nós (estou pela enésima vez lendo Os Miseráveis, de Victor Hugo). Esse lance do talento versus técnica pode ser bem percebido no meu debute “Os Sete”. Está lá, o que poderia ser um fiasco tornou-se um bestseller. Agora, se não tiver talento para escrever, trata de descobrir rapidão para que o seu talento serve. Eu acredito muito nisso, cada um tem um talento, um dom natural. Seja para fazer salgados para festas, encontrar curas para doenças complexas, viajar até a lua, tecer redes. Lembra do que falei? Nunca desista. Não ser escritor e ser outra coisa não significa desistir, significa poupar seu tempo e ser mais feliz. Outra coisa, não ser publicado por uma editora grande também não quer dizer que você não é escritor. Sem escritor não tem nada a ver com quantos livros você já escreveu, quantos publicou, quantos leitores você tem ou quantos e-mails recebe por dia. Isso tudo é perfume, fogos de artifício. Ser escritor está no coração. Ainda me considero um escritor amador, amador até morrer. Antes de investir os tubos numa publicação independente, estude o mercado. Vender pela Internet (crucial hoje)? Quando eu comecei esse lance de ser escritor não existia orkut, eu nem tinha e-mail em 2000. Abri uma conta exclusivamente para colocar um email de contato no fim do livro. Colei etiquetinhas em cada um dos mil exemplares e em menos de um mês recebi o email da primeira leitora. Cara, que sensação! Era um e-mail genuíno. Não conhecia a menina, do Alphaville, que tinha pirado o cabeção lendo "Os Sete".
Lembro que no final de 99 eu fiz um curso de “Como publicar seu livro”, ali no finalzinho da avenida Paulista, numa livraria tradicional do pedaço. Lá aprendi o que era ISBN e que ele era indispensável na quarta capa do livro. Sem ISBN nada feito.
Perca um tempo pensando numa boa capa. A capa de meus livros atraiu muitos leitores. Tenho até hoje uma boa relação com o cara que fez minha primeira capa, o Christian Pinkovai (www.christianpinkovai.com). A briga mais feia que tive na editora foi para que eu escolhesse a capa do trabalho e que ela fosse feita pela Christian. Esse negócio de amizade ainda existe em alguns recantos do mundo dos negócios. Dizem que não se deve julgar um livro pela capa, pois é.
Agora, Ana Carolina, nada disso. Nada de mudar o nome para Annie. Você é brasileira, não desiste nunca (hahahahahaha). Você, sinceramente, acha que vai ser muito diferente mandando seus livros para fora? Não creio que as mesas das editoras estrangeiras estejam as moscas ou ao menos com um espaço vazio esperando “novidades do Brasil”. Não senhora. O fenômeno das “pilhas de baboseiras” deve se repetir mundo a fora. Trabalhei alguns meses como consultor da Novo Século. Senhora! Quanto livro! Chega um monte todos os dias. Por isso que o processo é injusto. Os livros vão se amontoando. Alguém lê algumas linhas e se não gostar na primeira página, sabe aquela pilha das baboseiras? Então. Por outro lado vocês precisam entender que as editoras, apesar de atuar no ramo da cultura, são geridas por empresários que querem perceber certo lucro no final das contas. Não, não é um mercado fácil. Não é mesmo.
Não estou aqui querendo destruir o sonho de ninguém. Muito pelo contrário, só quero deixar certos mecanismos claros para que você lute com mais preparo. Os olheiros das editoras que ficar de queixo caído na primeira página. Se entender e gostar do seu livro, vão ler mais duas páginas. Se gostarem das cinco primeiras é possível que mandem para alguém da área ler e opinar (sem misericórdia). Não mude seu nome. Existem leitores para você no Brasil. Arregace as mangas e encontre-os e esfregue-os na cara dos livreiros. E sobre o que a Ana e o Daniel falaram, traduzir para arriscar em outro mercado, acho que a grana que você vai gastar com um tradutor juramentado, descente, é suficiente para produzir seu livro direto numa gráfica aqui no Brasil e começar seu trabalho. O Daniel mostra um pensamento interessante. Procurar editores pequenos, com catálogos pequenos e que estejam começando. Meu lance com a Novo Século começou mais ou menos assim. Na verdade eu já tinha desistido das editoras quando publiquei Os Sete e, um ano depois, publiquei Sementes no Gelo. Aconteceu da editora Novo Século ter uma loja em um shopping e ver Os Sete vendendo bem demais para um autor estreante e, ainda por cima, independente. Naquele momento eles estavam começando a editora e tive o prazer de ser o primeiro escritor da casa. Quando passei na loja para fazer a reposição mensal, recebi um cartão do gerente, dizendo que queriam falar comigo. Fui até sem dar muita bola... e sai com um contrato assinado. Adiantei meus planos em cinco anos! Ai vem mais um ponto importante: tenha um plano! Começa a soar aquelas coisas de auto-ajuda (recomendo A mágica de pensar grande – David Joseph), mas é sério. Tenha um plano, um caminho que você quer traçar. Faz toda diferença. Quando eu sentei a mesa do editor Luiz Vasconcelos eu tinha um plano, eu sabia onde eu ia chegar. Expliquei que tinha esse e aquele livro publicado, vendendo de loja em loja, mas que tinha mais dois romances escritos (O Senhor da Chuva e Sétimo) e que tinha idéias desenvolvidas para mais 20 romances naquele estilo. Se você quer viver de escrever, tenha uma porção de idéias e escreva vários livros. Os editores vão gostar de ouvir isso. Quando você for chamado para um encontro, um almoço com um possível editor, converse tranqüilo com ele, prepare sinopses de alguns trabalhos, eles estarão justamente para ouvi-los, é o seu momento. Se não estiver confiante pelo menos parece confiante.Nosso colega Saint-Clair também está correto quando fala da distribuição. Esse é um gargalo que dificulta muito as coisas. Avalie muito bem a editora antes de assinar um contrato se quiser ver seu livro nas prateleiras do país todo. Não será prepotência de sua parte rejeitar um contrato. Quando você assina você aliena seus direitos por coisa de 5 anos. Tente baixar esse tempo no seu primeiro contrato. É normal fazer um primeiro contrato por 2 anos. Tente isso. 2 anos é tempo mais que suficiente para conhecer na prática sua editora. Outro lance legal é conseguir um contato de um escritor da casa. Isso fará seu livro pular do fundo do poço das sombras para a mesa de um editor. Não significa necessariamente que será publicado, mas já ajuda muuuito!
3 comentários:
Eu li tudo, e vou ler mais algumas vezes. É interessante a simplicidade e a forma espontânea que o André mostrou, ao contar sua luta diária e a luta que certamente virá a todos nós que sonhamos com algo.
Eu tenho algumas idéias. Elas me empolgam bastante, mas também há momentos em que sinto-as fracas. Acho que são esses momentos que caracterizam meus personagens e suas aventuras. A força e o receio. Tento aproveitar tudo o que vejo e sinto.
E fiquei curioso! Quero ler "Os Sete" o quanto antes!
Eu tava pesquisando algo sobre es critorede fantasia no google cai no seu blog. O post é sensacional. Muito interessante, já que sou dessa área.
Adorei o post!
Parabéns.
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