terça-feira, 13 de maio de 2008

Anansi

Aos fãs de Neil Gaiman, esse artigo pode ser mais interessante do que parece. Anansi é simplesmente um dos mais importantes deuses/heróis da cultura afro-americana, sendo ao longo do tempo difundido através de muitas lendas na América do Norte e América Central. Sua aparência em grande parte dos contos é a de uma aranha com traços de homem, em algumas lendas aparece como mulher e em outras formas. Os nomes de suas histórias e dos personagens variam de acordo com as culturas. Acredita-se que sua origem vem diretamente das tribos Ashanti, sendo depois espalhada pelos grupos Akan e por fim se aderindo à cultura dos índios americanos.

Muitas lendas atribuem à Anansi a criação do Sol, da Lua e das estrelas, o ensino da agricultura e até a tentativa de prender toda a sabedoria do mundo dentro de uma cabala! Uma característica inclusa em todas suas lendas, e que talvez marque tanto Anansi, é o fato dele simplesmente conseguir enganar a todos, resolvendo facilmente seus problemas através da lábia e da sua esperteza. Algo que de longe, bem de longe, lembra até nosso querido Saci Pererê. Uma célebre história, nomeada de O Baú de Anansi, conta como Anansi se tornou o detentor de todas as histórias do mundo.

Certa vez, quando já não tinha mais histórias para contar na Terra, Anansi teceu uma longa trama que ia do solo até alcançar o céu. Lá se dirigiu à um castelo, tendo em vista compras as histórias guardadas em uma urna de ouro pelo deus do céu Nyankonpon. Ao entrar, todos ficaram paralisados, pois muitos conheciam as histórias de Anansi, mas nunca tiveram a oportunidade de vê-lo. Porém, quando avisou qual era seu intuito, todos se postaram a gargalhar! Nyankonpon riu e zombou do desejo de Anansi, mas lhe propôs um acordo: Anansi teria de levar até o castelo Onini, a grande jibóia; Osebo, o leopardo de dentes terríveis; Mmboro, as vespas que picam como fogo e por fim Mmoatia, o espírito que nenhum homem viu. Até aquele momento, nenhum homem conseguiu realizar tais provas, mas Anansi não se intimidou e ofereceu além de completar esses desafios, sua própria mãe.

De volta à sua casa, Anansi, com o auxílio de sua mulher Aso, se pôs a pensar em como realizar essas provas. Chegou na conclusão em como capturar Onini, para isso teria de ter um galho de palmeira e um pouco de trepadeira, assim os dois se dirigiram para o riacho onde Onini costumava se banhar. Próximos dela, ficaram discutindo se "o galho era ou não do tamanho de Onini"; o plano deu certo, pois curiosa, Onini fez questão de ir auxiliá-los com essa questão, deitando-se sobre o galho. Anansi não perdeu a oportunidade e a prendeu com a trepadeira.

Novamente, Aso ajudou Anansi à chegar em um resposta para capturar dessa vez as vespas. Anansi, com uma folha de bananeira e um cabala cheia de água, aproximou-se das Mmboro; aproveitamento um momento de distração dessas, atirou todo o conteúdo da cabala para o alto, colocou a folha sobre a cabeça e gritou "Venham, venham! Está chovendo e vocês se ficarem aí, vão molhar suas asas, entrem aqui nesse abrigo!". Nem preciso dizer que o "abrigo" era a cabala que Anansi tampou com a folha de bananeira.

No caso da captura de Osebo, o leopardo, bastou à Anansi cavar um buraco, tecer uma teia bem forte no fundo dele e depois tapá-lo com folhas, pois assim no dia seguinte Osebo já estava lá preso. Agora faltava apenas Mmoatia, o espírito que nenhum homem viu. Depois de pensar muito, achou um galho caído por um raio e teve uma brilhante idéia. Pediu para Aso preparar o mais delicioso mingau de mandioca, enquanto isso talhou um boneco de forma humana com o galho achado. Anansi se dirigiu então para o local onde sabia que o espírito apareceria para dançar, lá colocou o boneco juntamente do prato com mingau, mas não antes de cobrir o boneco com um líquido pegajoso.

Mmoatia, depois de um tempo, apareceu e encontrou o estranho boneco com um saboroso prato de mingau. Irritado com o fato do boneco não lhe oferecer o petisco, Mmoatia deu um tapa em sua cabeça, mas acabou ficando com a mão presa! Deu outro tapa e ficou mais preso ainda; por fim com um chute derrubou o prato de mingau, que tanto queria, e ficou tão grudado que não conseguiu mais se soltar. Anansi então juntou todas suas capturas e foi buscar sua mãe. No dia seguinte tramou uma nova teia entre o solo e o céu e foi buscar seu prêmio.

O deus Nyankonpon ficou muito surpreso com a capacidade de Anansi, pois ele não passava de um jovem miúdo e fraco. Com muito gosto então lhe concedeu a urna de ouro, onde todas as histórias do mundo estavam guardadas. Anansi, de volta à sua aldeia, dividiu então essa e todas outras histórias com o resto do mundo.

Já aviso que existem muitas outras versões dessa história. Hoje em dia Anansi se tornou largamente uma influência para a cultura em geral, o escritor Neil Gaiman, por exemplo, apresentou o Sr. Nancy em seu livros Deuses Americanos e Filhos de Anansi. Rolou até uma aparição dele em um episódio do Super Shock, hahahaha. Espero que tenham gostado, até a próxima.

2 comentários:

Anônimo disse...

E dá-lhe Gaiman na Flip desse ano.

Unknown disse...

Parabéns pela postagem, Cezar. Tbm sou um aficcionado por mitologias e, mtas vezes, me pergunto pq tradições tão ricas e belas como as afro-americanas ou msm nossa brasileiríssima mitologia indígena e negra não tem voz nem vez. Idéia mto bem vida, a sua.
Parabéns mais uma vez.
Abraço